25 de agosto de 2012

Globo Ecologia e Hora de Mudar

[Fonte: Globo Ecologia e Hora de Mudar:]

Obsolescência programada: é possível identificar e se proteger?

Pouca durabilidade dos produtos e lançamento
frequente de modelos estão entre as práticas da indústria encontradas no
mercado nacional

joão paulo amaral, idec  (Foto: divulgação)João Paulo Amaral, do Idec (Foto: divulgação)


Na contramão das iniciativas de consumo sustentável, o mercado parece
desenvolver novas – e eficazes – estratégias para estimular ainda mais
as aquisições por impulsão, ou compras mais frequentes. Fazendo coro às
ações de marketing, a chamada obsolescência programada (do inglês planned obsolescence)
também dá o seu empurrãozinho para motivar o consumidor a sacar mais
algum objeto das prateleiras do comércio. A baixa durabilidade dos
produtos e o apelo dos lançamentos constantes caracterizariam essa
tendência.

Ainda que figure hoje entre nós, a prática está longe de ser algum novo
lançamento, e data da década de 20. Tudo teria começado com a indústria
de lâmpadas. Que, na opinião dos empresários, duravam demais. E não
demorou para que surgissem no mercado modelos menos eficientes, para
fomentar o consumo. Prática que logo se estendeu às linhas de
eletrodomésticos e eletroeletrônicos. O argumento para afastar a
especulação de uma teoria da conspiração seria: por que a indústria
estaria desenvolvendo produtos menos duráveis, quando a sofisticação
tecnológica deveria promover o movimento contrário?

Parte das respostas pode ser encontrada no documentário “The Light Bulb Conspiracy
(A conspiração da lâmpada, em inglês), da cineasta Cosima Dannoritzer,
que se propõe a questionar a prática da indústria de determinar uma vida
útil curta para seus produtos com o objetivo de vender mais, em
especial na indústria da tecnologia. No filme, a cineasta defende a
obsolescência programada na forma tecnológica pura e também na forma
psicológica, em que o consumidor voluntariamente substitui algo que
ainda funciona só porque quer ter o último modelo.

O conceito, que teria surgido entre as empresas como algo obscuro,
torna-se cada vez mais público. A justificativa de que os produtos menos
resistentes seriam também de menor custo e mais acessíveis parece não
soar muito convincente aos especialistas. “O que existe hoje é uma
cultura de objetos com pouca vida útil, aliada ao desejo das pessoas de
terem sempre o último modelo de celulares, tablets, notebooks”, sintetiza João Paulo Amaral, pesquisador do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Com isso, a entidade coleciona reclamações de produtos defeituosos,
otimizadas pela falta de assistência técnica e de reposição de peças,
além da incompatibilidade com modelos anteriores e acessórios. “Com o
volume e a velocidade de lançamentos, mesmo a mão de obra especializada
não consegue acompanhar a demanda e não há disponibilidade de peças no
mercado”, completa Amaral.
Para o pesquisador, outra evidência da prática da obsolescência
programada seriam os lançamentos de modelos de produtos muito similares e
em pequenos intervalos de tempo. “Com certeza a indústria já dominava
há muito tempo a tecnologia para o desenvolvimento de produtos que só
hoje encontramos no mercado, nos forçando a consumir versões já
obsoletas de pendrives e celulares, por exemplo”, diz o pesquisador.

Amaral alerta para o dano que esta prática causa ao meio ambiente,
gerando um volume cada vez maior de lixo eletroeletrônico, em desalinho
com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O problema exigiria a
implantação de logística reversa das indústrias, condicionando a
produção e a montagem dos produtos em função do descarte.

A insatisfação com produtos foi a terceira maior causa de atendimentos
do Idec no ano passado, somando 14,42% das reclamações, perdendo apenas
para as insatisfações com serviços financeiros e de planos de saúde. A
entidade registrou 5,2 mil orientações sobre problemas de consumo.
Garantia e trocas estão entre as principais dúvidas e reclamações. “A
forma que o consumidor tem para se proteger é estar atento aos seus
direitos. Na entidade, podemos informar sobre prazos de validade e
garantias”, conclui.



ivo lesbaupin, abong (Foto: hugo fanton)Ivo Lesbaupin, da Abong (Foto: Hugo Fanton)


Na opinião do diretor executivo da Associação Brasileira de
Organizações Não-Governamentais (Abong), Ivo Lesbaupin, a consciência e a
articulação social em relação ao problema da obsolescência programada
são os principais recursos para condicionar a indústria a uma mudança de
percepção e até mesmo a uma interferência legal do caso. “Chegamos
àquela situação em que consertar um determinado aparelho tem o mesmo
custo que comprar um novo. A forma que temos de nos opor a isso é exigir
melhor qualidade tecnológica dos produtos, a possibilidade de reparos e
que as peças possam ser utilizadas de alguma forma após o desmonte dos
aparelhos”, enumera.

Outra alternativa apontada por Lesbaupin seria o cumprimento dos prazos
de garantia, com a exigência da troca das mercadorias em casos de
defeito, e não o reparo gratuito pela assistência técnica. “É preciso
jogar essa carga sobre os fabricantes. Se a indústria fosse obrigada a
fornecer um novo produto a cada caso de peça defeituosa, a preocupação
com a qualidade tecnológica certamente aumentaria”, acredita.

O diretor da Abong não está sozinho quando pensa que uma campanha de
sensibilização despertaria o interesse de muitos consumidores. A
obsolescência programada também esteve em pauta no blog Hora de Mudar,
da juíza Ziula Sbroglio, dedicado ao consumo consciente. Desde julho do
ano passado, Ziula se impôs o desafio de “frear todo e qualquer consumo
de item não-essencial ou supérfluo”, e já entra no que ela mesma chama
de “segundo ano sem compras de desnecessários e supérfluos”.

Em meio a muitos relatos, a blogueira conta que um dos seus filhos
sugeriu a compra de uma televisão com tecnologia 3D, se propondo
inclusive a pagar metade do custo do aparelho. Fiel ao próprio desafio,
ela teria argumentado que a aquisição não se enquadrava como item
necessário ou essencial. “Não compramos. E quinze dias depois ele
lembrou que a televisão não está fazendo a mínima falta.”


retirado daqui

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