27 de agosto de 2012

Resenha: Eu mexi no seu queijo, de Deepak Malhotra

[Fonte: Resenha: Eu mexi no seu queijo, de Deepak Malhotra:]

Há mais de dez anos, o best-seller Quem mexeu no meu queijo? conquistou o mundo com a fábula sobre aceitar mudanças que, às vezes, são inevitáveis. Agora, Deepak Malhotra, professor da Harvard Business School, contraria totalmente essa lógica com o livro objeto da resenha do dia de hoje, Eu Mexi no Seu Queijo.
Nesta nova fábula, há três ratos – Max, Zed e Big – no labirinto que, em vez de se conformarem com a realidade e perseguirem incansavelmente o queijo, se recusam a aceitar as limitações e as situações que lhes são impostas. Eles ensinarão que é possível assumir o controle da própria vida e jogar de acordo com as próprias regras.Vamos ver do que trata o livro? :D
Informações técnicas
Título: Eu mexi no seu queijo

Número de páginas: 123
Editora: Best Seller
Preço médio: R$ 25
O subtítulo do livro é “Para aqueles que se recusam a viver como ratos no labirinto alheio”, e o propósito declarado da obra, como o próprio título diz, é  fazer um contraponto ao best seller escrito por Spencer Johnson. Nesse livro de Spencer, o autor ensina que mudanças acontecem e que devemos aceitá-las, pois estão além de nosso controle. O que podemos controlar, em última análise, seria a nossa reação.
Deepak, ao escrever esse título, propõe um novo objetivo:
“Ajudar os leitores a questionarem suas suposições em relação a quais são as limitações que eles realmente enfrentam, e encorajá-los a adotar as medidas necessárias para mudar não apenas seus comportamentos, mas também as circunstâncias em que estão envolvidos. [...] Podemos criar as novas circunstâncias e realidade que quisermos, mas primeiro devemos descartar a noção muitas vezes arraigada de que não somos coisa alguma além de ratos no labirinto alheio” (p. 12-13).
O livro conta, então, a história de três ratos que vivem no labirinto: Max, Zed e Big.
Max é, por dizer assim, o “questionador”, aquele que não aceitava as coisas como todo mundo cegamente aceitava. Por que todos os ratos ficavam buscando o queijo dentro do labirinto como se isso significasse a própria busca pela felicidade? Por que o labirinto era projetado daquela forma? Por que ele continha tantos caminhos inúteis? Ele questionava todas essas situações, mas era prontamente desencorajado pelos demais ratos do labirinto, sob o argumento de que seriam perguntas inúteis.
Zed personificava o sujeito “zen”, conhecido por ser uma pessoa, quero dizer, um rato :) inteligente, sábio mesmo. Ele não se importava com o queijo, e não se sentia na obrigação de seguir os costumes e hábitos dos demais ratos.
“Zed era a prova viva de que alguém que parecia desafiar cada uma de suas crenças sobre o que era importante podia ainda ser feliz, e, de fato, ser mais feliz do que qualquer outro rato no labirinto” (p. 31, destacou-se).
Big também se destacava do meio da multidão, porque era o mais “fortão” da sociedade local de ratos. Era mais forte do que qualquer outro rato, e era assim porque trabalhou para isso. Ele não se importava muito com a busca frenética pelo queijo, que era o “padrão-ouro de felicidade” dos ratos locais. Ele se preocupava em desenvolver o seu já musculoso corpo. Tinha descoberto o que o fazia feliz, e não se importava se os outros o entendiam ou não.
Certa vez, houve uma aglomeração de ratos em torno de Zed, o sujeito sábio, e começou-se a travar uma discussão em torno do livro de Spencer. Zed enfureceu a multidão local, ao afirmar que os ensinamentos do livro “Quem mexeu no meu queijo” eram não só desimportantes, como irrelevantes. Isso porque, dentre outras coisas, todos os ratos foram condicionados a pensar que a busca pelo queijo era a única forma de buscar felicidade, e que o labirinto era uma realidade que todos deveriam aceitar. Zed então fez vários questionamentos:
“Ora, existem coisas muito mais interessantes e importantes para considerar – respondeu Zed, naturalmente. – Você alguma vez pensou sobre por que a mudança é inevitável? Você alguma vez se perguntou por que o labirinto é do jeito que é, qual a finalidade dele? Você alguma vez pensou em questionar por que os ratos passam a vida inteira à procura de queijo? Você alguma vez se perguntou, após constatar sua ausência, quem mexeu no meu queijo?” (p. 40, com destaque no original).
Logicamente, a reação dos ratos locais foi de indignação. Afinal, todos achavam que essas perguntas não faziam sentido. Todos, menos Max. Max, o “questionador”, ficou intrigado com essas questões levantadas por Zed, e tomou a decisão de buscar respostas para todas essas perguntas. Ele estava determinado a descobrir por que o labirinto era projetado de tal forma, por que o queijo se movimentava, e quem, afinal, mexia no queijo dele.
Não vou dizer como Max conseguiu sair do labirinto (afinal, isso seria como contar o final de um filme, leiam o livro e saberão…rsrs), mas o fato é que, ao conseguir sair do labirinto, ele descobriu que havia pessoas, seres humanos, que eram como os ratos, em sua personalidade e características psíquicas, e que projetavam os labirintos e a posição dos queijos para atender aos objetivos deles, seres humanos.
Max ficou encantando com suas descobertas, e as ia relatando para Zed:
“A vida no labirinto nos condiciona. Recusamo-nos a questionar nossas crenças em relação ao queijo ou em relação ao que realmente nos traria a felicidade. Em vez disso, aceleramos e saímos atrás de mais queijo. E a busca continua. No entanto, nós ratos não estamos sozinhos nisso. Todos os seres são assim, até mesmo as pessoas, que também têm seus labirintos. Elas também têm seu queijo, mas não usam esses nomes. Elas descobriram algo sobre os ratos, mas não percebem que suas vidas são similares. Elas, da mesma forma, aceitam o labirinto como inescapável e veem as paredes como intransponíveis. Elas, igualmente, se recusam a tomar atitudes e também não conseguem fazer as perguntas mais importantes. [...] Para os ratos que aceitam seus labirintos como inescapáveis, como uma prisão, não há decisões a não ser reagir aos desígnios dos outros. Mas para aqueles que se recusam a aceitar o labirinto como algo condicionado e que desafirão seu design, existe uma outra possibilidade: decidir agir (p. 65-67, sem destaques no original).
O mais interessante é que Max não só conseguiu sair do labirinto, como também aprendeu a linguagem dos seres humanos (esse rato é um perigo! rsrsrs) e, sem estes saberem, começou a mudar o que os administradores dos labirintos escreviam em suas instruções. Agindo assim, ele foi capaz de influenciar nas mudanças que eram feitas no labirinto. Mudou paredes, reprojetou o labirinto inteiro, acrescentou mais queijo… tudo com o (nobre) objetivo de encorajar os ratos a descobrirem seus próprios objetivos. O fato é que, apesar de o novo labirinto ser melhor do que o antigo, os ratos ainda estavam sujeitos a regras externas. E então Max disse:
“Se apenas um rato decidisse, por conta própria, que não iria mais buscar o queijo cegamente, ele estaria livre. Eu não teria controle sobre ele. Minhas regras seriam irrelevantes” (p. 72, destacou-se).
Assim, como Max, Zed também conseguiu sair do labirinto, mas de uma forma totalmente diferente (not, leiam o livro…rsrs :D ). Max ficou intrigado como Zed havia conseguido transpor o labirinto daquela forma, ao que Zed sorriu, e disse simplesmente:
“- Veja, Max, o problema não é o rato estar no labirinto, mas o labirinto estar no rato” (p. 85).
Big, o maior rato já visto, também conseguiu sair do labirinto, tendo em vista que a quantidade crescente de ratos no local já estava atrapalhando seus treinamentos de força e resistência. Ele refletiu sobre a situação toda, e achou melhor também “dar o fora” (ele conseguiu sair do labirinto usando…rs).
Conclusão
Esse livro traz muitas reflexões interessantes. Por exemplo, há muitos labirintos que as pessoas acreditam ser externos, mas que, na verdade, são internos, como Zed disse de forma inteligente, ao afirmar que “o problema não é o rato estar no labirinto, mas o labirinto estar no rato”. A busca frenética pelo queijo pode nos cegar para os objetivos que realmente queremos para nossa vida: afinal, qual jogo você está jogando? É o jogo certo para você?
A escolha de objetivos pessoais e profissionais é crucial especialmente para os estudantes, e Malhota propõe a seguinte reflexão:
“Alguns dos maiores erros cometidos por estudantes em suas vidas estão relacionados às áreas profissionais que eles escolhem e aos empregos que buscam; e muitas dessas escolhas refletem pressões e expectativas externas. Infelizmente, muitos estudantes vão passar alguns anos – e outros a vida inteira – buscando sonhos que não são os seus” (p. 110, destacou-se).
Esse é um livro para ser lido e relido quantas vezes for necessário, e o fato de ser uma obra curta – menos de cem páginas – ajuda nesse propósito. Uma mensagem do livro particularmente relevante é essa: questione suas crenças: elas te libertam ou te limitam? Não é porque todo mundo de sua área de atuação faz o que está fazendo que você precisa seguir necessariamente pelo mesmo caminho. Lembre-se da busca cega pelo queijo dos ratos no labirinto. Será que não está na hora de você sair desse labirinto e viver de acordo com suas próprias regras? Você não precisa jogar o jogo dos outros para ser feliz.
Muito embora a maioria das pessoas prefira ficar aonde está, acredito que as ideias principais contidas no livro sejam bastante úteis e proveitosas para um seleto e pequeno grupo de leitores do blog. Se for esse o seu caso, vá adiante e aja. Agora. Pois de nada adianta ter uma boa ideia se ela não for colocada em prática. :wink:
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!

25 de agosto de 2012

A ÉTICA DE ANTÔNIO VIEIRA

[Fonte: A ÉTICA DE ANTÔNIO VIEIRA: ]




O Princípio da Honestidade no Brasil do
Século 21  



Carlos Cardoso Aveline



Acusado de “heresia”,
Antônio Vieira viveu
diversos anos preso em
cárcere mantido por cardeais

que torturavam e matavam em nome de Jesus


  


visão interior da meta antecede a ação.  Saber o que é
correto é mais fácil do que colocá-lo em prática eficientemente.

Assim, a chave ética para a transformação política da sociedade
não terá de ser descoberta em algum momento do futuro, porque já vem sendo
descrita e mostrada há milênios. 

“Não há nada de
novo debaixo do Sol”, diz a Bíblia. E um exemplo claro disso é que a questão da
existência ou não de ética na política – decisiva para o Brasil do século 21 –
já foi esclarecida corajosa e magistralmente pelo padre Antônio Vieira em um
sermão feito em Lisboa em 1655, por coincidência, alguns poucos  anos
antes de ele ser recolhido às prisões da Santa Inquisição portuguesa.

Polêmico como
todos os profetas, Vieira contou uma história para mostrar a diferença entre um
assalto comum e o roubo em grande escala. Disse ele que, certo dia, o imperador
Alexandre, da Macedônia, navegava em direção às Índias com sua poderosa frota
de guerra quando foi trazido à sua presença um pirata que andava roubando os
pescadores do mar Eritreu. Alexandre repreendeu o homem por suas atividades
desonestas. Mas aquele pirata do século quatro antes de Cristo não era medroso
nem tímido, e respondeu:

“Então, senhor,
eu, que roubo em uma barca, sou ladrão, e vossa excelência, que rouba com uma
frota inteira, é um imperador?”

Vieira citou a
seguir o comentário do filósofo Sêneca: “Se qualquer rei fizer o que fazem o
ladrão e o pirata, merece o mesmo nome que eles”. Para aquele padre português,
que serviu o Brasil como poucos, o que mais causava assombro e vergonha era ver
que os pregadores religiosos do seu tempo não defendiam a mesma doutrina. O
silêncio deles, dizia Vieira, era uma grave acusação contra os príncipes.

“Não são ladrões
apenas os que cortam as bolsas”, disse o padre, citando São Basílio. “Os
ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os
exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das
cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos. Os
outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam
correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo. Os outros, se furtam, são
enforcados; mas estes furtam e enforcam.”(1)

Depois de
mencionar a responsabilidade dos líderes religiosos, Vieira comenta o papel dos
reis (e chefes de Estado) no processo da corrupção generalizada: “Aquele que
tem a obrigação de impedir que se furte, se não o impediu, fica obrigado a
restituir o que se furtou...”

Pouco mais de
trezentos anos depois da morte de Vieira, ocorrida em 1697, as palavras dele
continuam proféticas. Ao descrever a atuação dos administradores públicos no
vasto reino português do século 17, ele parecia falar também do nosso Brasil
republicano no início do século 21:

“Furtam de modo
permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões.
Conjugam de todos os modos o verbo roubar...”

A desonestidade
nas relações políticas e a corrupção dos administradores públicos não são,
portanto, um fenômeno recente. Mas só um pessimista muito afastado da realidade
dos fatos pode ignorar que a transparência e a informação plena são a marca do
século 21, e que elas dificultam  a corrupção.



Ao mesmo tempo, é
impossível instalar a ética na política de modo estável e permanente enquanto
não houver ética nas relações econômicas e na estrutura social. Os avanços
tecnológicos das últimas décadas eliminaram grande parte dos obstáculos
materiais para uma vida melhor. Há muitas soluções simples que ainda não foram
adotadas pelos nossos líderes políticos apenas porque necessitam de uma dose
maior de honestidade e decência por parte de todos, e um pouco menos de egoísmo.

Por exemplo: a
produtividade da economia cresceu de modo extraordinário nos últimos 50 anos do
século vinte, mas o poder aquisitivo dos trabalhadores não aumentou na mesma
proporção, e o desemprego continua uma ameaça. Ora, há duas maneiras principais
de repassar o aumento de produtividade para o trabalhador. Uma é aumentar o
salário. A outra é diminuir a jornada de trabalho. Se esta idéia for colocada
em prática, o trabalhador terá mais tempo para o lazer e a cultura. Terá mais
qualidade de vida e chances de ser um cidadão melhor. O desemprego diminuirá e,
conseqüentemente, haverá menos crimes nas ruas.

Há uma outra
questão social decisiva para a vida política do País é, sem dúvida, a reforma
agrária. Não pode haver ética duradoura na política enquanto não houver justiça
social no campo, porque, afinal, todas as questões estão integradas.

As igrejas cristãs
e demais lideranças espirituais têm atuado pouco no campo da ética política, e
isto aumenta as dificuldades. No futuro próximo, porém, os espiritualistas
sintonizados com a energia do futuro assumirão com força crescente o seu dever
de irradiar, o mais rápido possível, honestidade e decência para os diferentes
níveis da sociedade brasileira. Este será ao mesmo tempo um teste para a
coerência das nossas lideranças espirituais, porque a pregação ética não tem
valor se não nasce de uma prática concreta.

Os gestos práticos
são, de fato,  o discurso mais eloqüente. E não se trata tanto de combater
o mal quanto de fazer e estimular o bem. Todo ser humano tem qualidades
positivas e negativas. A grande tarefa política é criar uma espécie de reação
química coletiva que faça crescer os sentimentos positivos entre as pessoas e
os setores da sociedade, de modo que as qualidades positivas entrem em
movimento e a negatividade perca espaço e acabe sendo transcendida. O desafio
do líder político da nova era é criar no cidadão um sentimento de confiança
vigilante em si mesmo, nos outros e no nosso futuro comum. Neste contexto, a
oposição entre esquerda e direita pode ficar reduzida em grande parte a um mero
jogo de palavras.

Até algum tempo
atrás, os movimentos políticos de esquerda pareciam quase donos da bandeira da
ética; mas atualmente há uma grande falta de heróis nessa área.

Os partidos
políticos não têm sabido interpretar nem encaminhar de modo eficaz o problema
ético, apesar de ele ser a questão central do processo político brasileiro. A
razão desta dificuldade é simples: o problema ético depende da consciência
interior de cada um e não pode ser resolvido apenas no plano externo da
política e do jogo das aparências.

A visão interna e
espiritual da realidade é indispensável, porque a atmosfera psíquica ou
psicosfera do País é alimentada pelos pensamentos mais íntimos de cada um de
nós. A consciência social é alimentada pela consciência de cada pessoa. De
certo modo, os políticos desonestos estão apenas levando às últimas
conseqüências as pequenas desonestidades físicas, emocionais e mentais que
alguns cidadãos pensam que podem cometer impunemente nas suas relações
familiares ou profissionais. O cidadão que busca tirar vantagens dos outros
dizendo meias-verdades aumenta a presença sutil da falsidade na psicosfera.

Do mesmo modo, o
cidadão que decide viver o mais honestamente possível em todos os aspectos da
vida funciona como purificador da atmosfera psíquica, trocando vibrações densas
por outras mais leves, e pensamentos escuros por idéias bem definidas e claras.
Cada indivíduo está ligado internamente a tudo o que acontece no País e no
mundo, porque o processo humano é um só e indivisível. Quando um de nós
aperfeiçoa a si mesmo, está aperfeiçoando os outros no plano espiritual.
Falando de política, o sábio chinês Confúcio disse há 2500 anos: “Se você for
capaz de corrigir-se, não terá dificuldades ao governar. Se você não for capaz
de corrigir-se, não conseguirá corrigir os outros.” (2) Agora
estamos quase no ponto de aprender a lição.

Nos Ioga Sutras de
Patañjali – o maior tratado de ioga de todos os tempos –, uma das abstinências
exigidas é não roubar. Mas a tarefa é mais difícil do que parece à primeira
vista:

“A maior parte de
nós não é dada ao roubo como ele é usualmente entendido”, comenta Rohit Mehta.
“Mas existem aspectos mais profundos do roubo dos quais podemos não estar
livres.” Qualquer forma de imitação, mesmo sutil, pode ser um furto. Um
relacionamento em que há uso de outra pessoa para satisfação própria é uma
forma de roubo. Todo excesso tem alguma semelhança com o furto, e a honestidade
é quase sempre inseparável da moderação e do equilíbrio. (3)

O desafio político
dos cidadãos da nova era torna necessário reexaminar sua atitude diante da
sociedade brasileira a partir de um ponto de vista central: não podemos ser
altruístas na vida pessoal enquanto agimos de modo egoísta ou irresponsável em
nossas relações econômicas, políticas e sociais. Ao contrário. É preciso
recriar o mundo concreto e as relações humanas a partir do sentimento de
fraternidade que a busca espiritual faz nascer dentro de nós.



É verdade que o
caminho místico desperta a necessidade de uma vida menos agitada e mais
silenciosa, aumentando  o prazer de estar sozinho no plano físico. Mas o
sentimento de solidariedade profunda e o amor pela humanidade só aumentam
quando a busca interior é autêntica – mesmo que se prefira levar uma vida um
pouco mais retirada.

Não é por acaso
que a participação dos místicos na vida política brasileira sempre foi
decisiva. O sentimento de solidariedade é inevitável. Tiradentes, o mártir da
Independência, era simpatizante ativo do movimento maçônico. Ele disse que, se
tivesse dez vidas, daria todas elas pela causa da libertação do nosso país.
José Bonifácio, Gonçalves Ledo e os principais líderes da Independência eram
maçons e transcendiam o dogmatismo religioso, embora em muitos casos tivessem
uma visão limitada da questão espiritual. Frei Caneca, morto por seus ideais
republicanos e democráticos, era maçom, assim como o barão de Rio Branco,
Benjamin Constant, marechal Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Campos Sales
e o duque de Caxias. O grande jurista Ruy Barbosa, o presidente Prudente de
Morais e o presidente Washington Luís foram maçons, do mesmo modo que os
jornalistas Júlio de Mesquita e Júlio de Mesquita Filho. Todos esses
personagens da nossa história certamente cometeram equívocos, alguns graves, e
também discordaram freqüentemente um dos outros. Mas eles tiveram em comum uma
certa abertura para a visão mística da vida.(4)

O pioneiro do
jornalismo brasileiro, Hipólito José da Costa, fundou o jornal Correio
Braziliense no exílio, em Londres, em 1808, fazendo dele um instrumento de luta
pelo fortalecimento do Brasil. Hipólito, maçom respeitado mundialmente, foi um
estudioso notável das tradições de mistérios e passou vários anos nas prisões
da Inquisição, perseguido por seus ideais.

Independentemente
dos movimentos espiritualistas ou esotéricos organizados, há hoje uma tarefa
histórica inevitável diante das forças políticas: aprender a lição da ética e,
ao mesmo tempo, assumir uma atitude prática e construtiva em relação ao futuro.
A corrupção não apenas se alimenta do pessimismo, mas também tende a
realimentá-lo. Entre os lugares comuns usados pelos ladrões para justificar-se
está o de que “sempre haverá ladrões”. Mas a verdade é que a sociedade avançou
muito desde o tempo daquele sermão de Antônio Vieira, e agora estamos chegando
a uma situação radicalmente nova no Brasil. A ética em todas as relações
sociais é uma experiência inevitável nos novos tempos.

O século 21
começou e os movimentos sociais não têm mais condições de limitar-se a fazer
críticas. A política baseada apenas em discursos leva ao vazio, ou  uma
postura de negação do presente e do futuro com fixação nos hábitos populistas
do passado. Os setores de esquerda – como todos os outros – estão mudando e
necessitam mudar mais em direção a atitudes crescentemente  éticas e
criativas.

Ruy Barbosa
escreveu em 1910 que “uns plantam a semente de couve para o prato de amanhã, e
outros a semente de carvalho para o futuro. Os primeiros cavam para si mesmos,
os últimos lavram para o seu país”. Com dirigentes políticos decentes, capazes
de ouvir a população e buscar o bem do Brasil a longo prazo, o País poderá
finalmente realizar na prática o velho sonho futurista do patriarca da
Independência, José Bonifácio, que escreveu:

“Nós não
reconhecemos diferenças nem distinções na família humana. O chinês, o
português, o egípcio, o haitiano, o adorador do Sol e o de Maomé serão
tratados como brasileiros. Porque, afinal, esta paz divina e concórdia celeste
ligarão um dia todo o mundo, e farão, de todos os homens, uma só família.”(5) 

Esta é a política
do século 21. Com ela poderá nascer a federação mundial democrática sonhada há
séculos por místicos das mais diferentes tradições culturais e
religiosas,  e da qual a atual ONU é uma pálida,  mas valiosa,
antecipação.


NOTAS:

(1) “Sermão do Bom Ladrão”, Padre Antônio
Vieira, Ed. Princípio, 1993, 48pp.

(2) “O Essencial de Confúcio”, Thomas Cleary,
Ed.
Best Seller, 197 pp. Ver p.113.

(3) “Yoga, A Arte da Integração”, Rohit Mehta,
Ed. Teosófica, 312 pp. Ver pp. 106-107.

(4) “Os Maçons que Fizeram a História do
Brasil”, de José Castellani, Ed. A Gazeta Maçônica, 177 pp. Ver também
“História do Grande Oriente do Brasil”, de José Castellani, editado pelo Grande
Oriente do Brasil, Brasília, 358 pp. e apêndices, 1993; e “Maçonaria e Ação
Política”, de Waldemar Zveiter, Editora Mandarino, RJ, 192 pp.

(5) “José Bonifácio, o Patriarca da
Independência”, de Venâncio F. Neiva, um resumo biográfico, Ed. Irmãos
Pongetti, RJ, 1938, 304 pp. Ver especialmente p.278.

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Para ter acesso
a um estudo diário da teosofia clássica, escreva para lutbr@terra.com.br e
pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.

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Globo Ecologia e Hora de Mudar

[Fonte: Globo Ecologia e Hora de Mudar:]

Obsolescência programada: é possível identificar e se proteger?

Pouca durabilidade dos produtos e lançamento
frequente de modelos estão entre as práticas da indústria encontradas no
mercado nacional

joão paulo amaral, idec  (Foto: divulgação)João Paulo Amaral, do Idec (Foto: divulgação)


Na contramão das iniciativas de consumo sustentável, o mercado parece
desenvolver novas – e eficazes – estratégias para estimular ainda mais
as aquisições por impulsão, ou compras mais frequentes. Fazendo coro às
ações de marketing, a chamada obsolescência programada (do inglês planned obsolescence)
também dá o seu empurrãozinho para motivar o consumidor a sacar mais
algum objeto das prateleiras do comércio. A baixa durabilidade dos
produtos e o apelo dos lançamentos constantes caracterizariam essa
tendência.

Ainda que figure hoje entre nós, a prática está longe de ser algum novo
lançamento, e data da década de 20. Tudo teria começado com a indústria
de lâmpadas. Que, na opinião dos empresários, duravam demais. E não
demorou para que surgissem no mercado modelos menos eficientes, para
fomentar o consumo. Prática que logo se estendeu às linhas de
eletrodomésticos e eletroeletrônicos. O argumento para afastar a
especulação de uma teoria da conspiração seria: por que a indústria
estaria desenvolvendo produtos menos duráveis, quando a sofisticação
tecnológica deveria promover o movimento contrário?

Parte das respostas pode ser encontrada no documentário “The Light Bulb Conspiracy
(A conspiração da lâmpada, em inglês), da cineasta Cosima Dannoritzer,
que se propõe a questionar a prática da indústria de determinar uma vida
útil curta para seus produtos com o objetivo de vender mais, em
especial na indústria da tecnologia. No filme, a cineasta defende a
obsolescência programada na forma tecnológica pura e também na forma
psicológica, em que o consumidor voluntariamente substitui algo que
ainda funciona só porque quer ter o último modelo.

O conceito, que teria surgido entre as empresas como algo obscuro,
torna-se cada vez mais público. A justificativa de que os produtos menos
resistentes seriam também de menor custo e mais acessíveis parece não
soar muito convincente aos especialistas. “O que existe hoje é uma
cultura de objetos com pouca vida útil, aliada ao desejo das pessoas de
terem sempre o último modelo de celulares, tablets, notebooks”, sintetiza João Paulo Amaral, pesquisador do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Com isso, a entidade coleciona reclamações de produtos defeituosos,
otimizadas pela falta de assistência técnica e de reposição de peças,
além da incompatibilidade com modelos anteriores e acessórios. “Com o
volume e a velocidade de lançamentos, mesmo a mão de obra especializada
não consegue acompanhar a demanda e não há disponibilidade de peças no
mercado”, completa Amaral.
Para o pesquisador, outra evidência da prática da obsolescência
programada seriam os lançamentos de modelos de produtos muito similares e
em pequenos intervalos de tempo. “Com certeza a indústria já dominava
há muito tempo a tecnologia para o desenvolvimento de produtos que só
hoje encontramos no mercado, nos forçando a consumir versões já
obsoletas de pendrives e celulares, por exemplo”, diz o pesquisador.

Amaral alerta para o dano que esta prática causa ao meio ambiente,
gerando um volume cada vez maior de lixo eletroeletrônico, em desalinho
com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O problema exigiria a
implantação de logística reversa das indústrias, condicionando a
produção e a montagem dos produtos em função do descarte.

A insatisfação com produtos foi a terceira maior causa de atendimentos
do Idec no ano passado, somando 14,42% das reclamações, perdendo apenas
para as insatisfações com serviços financeiros e de planos de saúde. A
entidade registrou 5,2 mil orientações sobre problemas de consumo.
Garantia e trocas estão entre as principais dúvidas e reclamações. “A
forma que o consumidor tem para se proteger é estar atento aos seus
direitos. Na entidade, podemos informar sobre prazos de validade e
garantias”, conclui.



ivo lesbaupin, abong (Foto: hugo fanton)Ivo Lesbaupin, da Abong (Foto: Hugo Fanton)


Na opinião do diretor executivo da Associação Brasileira de
Organizações Não-Governamentais (Abong), Ivo Lesbaupin, a consciência e a
articulação social em relação ao problema da obsolescência programada
são os principais recursos para condicionar a indústria a uma mudança de
percepção e até mesmo a uma interferência legal do caso. “Chegamos
àquela situação em que consertar um determinado aparelho tem o mesmo
custo que comprar um novo. A forma que temos de nos opor a isso é exigir
melhor qualidade tecnológica dos produtos, a possibilidade de reparos e
que as peças possam ser utilizadas de alguma forma após o desmonte dos
aparelhos”, enumera.

Outra alternativa apontada por Lesbaupin seria o cumprimento dos prazos
de garantia, com a exigência da troca das mercadorias em casos de
defeito, e não o reparo gratuito pela assistência técnica. “É preciso
jogar essa carga sobre os fabricantes. Se a indústria fosse obrigada a
fornecer um novo produto a cada caso de peça defeituosa, a preocupação
com a qualidade tecnológica certamente aumentaria”, acredita.

O diretor da Abong não está sozinho quando pensa que uma campanha de
sensibilização despertaria o interesse de muitos consumidores. A
obsolescência programada também esteve em pauta no blog Hora de Mudar,
da juíza Ziula Sbroglio, dedicado ao consumo consciente. Desde julho do
ano passado, Ziula se impôs o desafio de “frear todo e qualquer consumo
de item não-essencial ou supérfluo”, e já entra no que ela mesma chama
de “segundo ano sem compras de desnecessários e supérfluos”.

Em meio a muitos relatos, a blogueira conta que um dos seus filhos
sugeriu a compra de uma televisão com tecnologia 3D, se propondo
inclusive a pagar metade do custo do aparelho. Fiel ao próprio desafio,
ela teria argumentado que a aquisição não se enquadrava como item
necessário ou essencial. “Não compramos. E quinze dias depois ele
lembrou que a televisão não está fazendo a mínima falta.”


retirado daqui

24 de agosto de 2012

'Estamos nos tornando narcisistas digitais', diz Andrew Keen na TNW 2012

[Fonte: 'Estamos nos tornando narcisistas digitais', diz Andrew Keen na TNW 2012:]

"A internet está destruindo nossas reputações". Foi seguindo esse discurso que o teórico Andrew Keen, autor de "O Culto do Amador" e do recém-lançado no Brasil "Vertigem Digital", arrancou alguns minutos de palmas ao final de sua apresentação no The Next Web Latin America, nesta quinta-feira (23) em São Paulo. Conhecido por suas críticas à Web 2.0 - que lhe assegurou o apelido de "o anticristo do Vale do Silício" -, o cientista político norte-americano criticou os excessos nas redes sociais.
Conhecido como "anticristo do Vale do Silício", Andrew Keen criticou o excesso de exposição na internet (Foto: Allan Melo/TechTudo)Conhecido como "anticristo do Vale do Silício", Andrew Keen criticou o excesso de exposição na internet (Foto: Allan Melo/TechTudo)
Em seu discurso, Andrew basicamente defendeu a ideia de que criamos uma realidade na internet que não é a verdadeira realidade da nossa vida. Usando o cineasta Hitchcock como referência, o teórico falou do filme "Um Corpo Que Cai", onde um homem se apaixona por uma mulher que na verdade é a imagem do que ele idealiza como mulher, e não ela própria. "A internet está sendo apresentada como a rede que conecta as pessoas, mas isso é uma coisa que não existe", declara.
"Todos os dias eu sou pego por uma nova rede social. Há redes sociais para dirigir, sair, comprar. Não gosto de compartilhar tudo sobre a minha vida. Essas redes incitam a gente a compartilhar tudo. O que nós comemos, o que nós escutamos, o que gostamos, o que fizemos, o que estamos fazendo e o que vamos fazer. (...) Nessa Web 3.0, nós somos a informação", declarou o escritor.
Para atacar o excesso de exposição, Andrew acredita que devemos fazer como Jim Carrey em "O Show de Truman: O Show da Vida". "No final (quando o barco de Truman encosta no fim do cenário e ele abre, escuro por dentro) ele vai para a escuridão, e é isso o que precisamos reconstruir na internet. Estamos todos nos mostrando a todo momento. Não existe escuridão na internet".
Keen defende que a escuridão é a melhor maneira de mantermos nossa reputação e recuperarmos a nossa capacidade em nos recriarmos quando quisermos. "Nós estamos nos destruindo (...) e acabando com a genialidade, com o misticismo, com a complexidade de se viver. Estamos nos tornando narcisistas digitais."
Encerrado o discurso principal, em um bate-papo informal no palco, o teórico ainda revelou que acha o Twitter divertido, mas que "as pessoas mais criativas da internet são as que mais mentem".
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13 de agosto de 2012

7 Lições Olímpicas

[Fonte: 7 Lições Olímpicas:]


Eu não gosto muito de assistir TV, mas abro uma honrosa exceção para as Olimpíadas, basicamente por 2 motivos. Primeiro, porque elas ocorrem só de 4 em 4 anos, e duram somente 2 semanas, apresentando um leque bastante diversificado de competições para assistir; e, segundo (e mais importante), porque as histórias de vários atletas rendem metáforas muito interessantes com a vida nossa de cada dia, e podem, portanto, render muitas lições de vida. Abaixo vão sete lições olímpicas dessa que é a primeira olimpíada acompanhada pelo blog Valores Reais.
1. Nunca é tarde para começar de novo.
Hiroshi Hoketsu em ação nos Jogos Olímpicos de Londres 2012

Onde você estava em 1964? É provável que você não estivesse em lugar algum. Aliás, é bem possível que seus pais sequer tivesse nascidos nessa época. :-D
Pois esse atleta aí em cima, do Japão, já estava competindo no hipismo, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no remoto ano de 1964, ano esse em que o Brasil começava a viver no período obscuro da ditadura militar, o Índice Bovespa nem existia, e Pelé acabava de conquistar o bicampeonato mundial com o Santos. Bom, Pelé já está aposentado há muito tempo, e Hiroshi Hoketsu também havia resolvido se aposentar das competições logo que os Jogos Olímpicos de 1964 terminaram.
Mas eis que, em 2003, ele resolve voltar aos treinamentos, conseguindo se classificar não só para as Olimpíadas de 2008, como também agora para os Jogos de Londres 2012, 48 anos depoisMEIO SÉCULO DEPOIS – de sua primeira participação olímpica. Apesar de não ter conseguido obter classificação para as finais, Hoketsu, atleta olímpico de 71 anos, é um dos exemplos mais emblemáticos, extraídos dos Jogos, de que nunca é tarde demais para começar de novo.
2. Ser brasileiro é não desistir nunca.
Esse cara aí da foto merece todo nosso respeito. Diogo Silva é um batalhador, um verdadeiro guerreiro, do taekwondo. Mesmo contando uma precária estrutura para praticar esporte, e lutando contra todo tipo de adversidades, incluindo falta de apoio tanto do setor público quanto do setor privado, numa modalidade esportiva que definitivamente não é das mais reconhecidas no Brasil, Diogo chegou ao 4º lugar em duas Olimpíadas, Atenas 2004 e Londres 2012. Ou seja, está conseguindo se manter na elite de sua modalidade esportiva durante cerca de uma década, o que não é pouca coisa. Agora, imagina se ele tivesse o mesmo apoio e a mesma atenção que recebem certas modalidades futebolísticas recebem em terras tupiniquins…
3. Descubra sua paixão, e você poderá ficar mais de 40 anos no topo
Tão impressionante quanto a história de Hiroshi Hoketsu é aquela vivenciada pelo canadense Ian Millar. Se Hoketsu pode se orgulhar de ser um atleta olímpico setentão, Millar não fica muito longe, pois tem 65 anos. Só que tem um detalhe: Millar competiu em Londres em sua décima Olimpíada. Exatamente. São DEZ Jogos Olímpicos nas costas, sendo a primeira em Munique 1972. Além de ser o recordista de participações olímpicas em todos os tempos, Millar é também um exemplo de perseverança, pois conquistou sua primeira medalha olímpica nos Jogos de Pequim 2008 (bronze no salto por equipes), ou seja, 36 anos depois de sua primeira participação em Olimpíadas.
Em entrevista para o UOL Esporte, ainda às vésperas dos Jogos de Pequim 2008, ele afirmou que:
“Sempre foi fascinado por cavalos e apaixonado por tudo que dissesse respeito a eles. “Quando eu tinha dez anos tive a primeira oportunidade de montar. Foi em um pônei. Uma vez que comecei, nunca parei de encontrar oportunidades para competir.”
Você consegue se imaginar entre os melhores de sua área de atuação durante mais de 4 décadas? Ian Millar consegue.
4. Seja compulsivo em sua preparação. Dedique-se à exaustão. Um dia você vai chegar lá.
O britânico Andy Murray é um tenista persistente. Nos últimos 4 anos, terminou em 4º lugar no ranking da ATP, sempre atrás do trio Federer/Nadal/Djokovic. No competitivo circuito atual, tem-se que treinar muito para conseguir competir de igual para igual com os melhores. E ele é a prova viva da intensa dedicação aos treinamentos, pois ele sabia que, para superá-los, seria preciso se esforçar muito, mas muito mesmo. Já mencionamos um artigo no Twitter, que descreve um pouco da obsessão dele em trabalhar cada vez mais forte para conseguir resultados de excelência:
“Ele é compulsivo em termos de treinamento, táticas, dieta, levantamento de pesos, equipamento, piques de corrida, alongamento, banhos de gelo, massagens, sono. Ele acrescentou massa muscular a seu corpo ainda enxuto e perdeu gordura corporal. Murray consultou um psicólogo esportivo, submeteu-se a testes de intolerância alimentar e – como o sérvio Djokovic – reduziu sua ingestão de glúten a quase zero. Ele contratou treinadores, despediu treinadores, estudou horas de vídeo”.
Em Wimbledon, na mesma quadra onde havia perdido o Grand Slam duas semanas antes, e contra o mesmo Roger Federer, Andy Murray finalmente desencantou, com incontestáveis 3 sets a 0 contra o atual nº 1 do mundo, para finalmente ganhar a medalha de ouro no torneio de tênis.  Uma prova viva de que, com dedicação total aos treinamentos, os resultados acabam aparecendo. Mais cedo ou mais tarde. E você? Está se preparando o suficiente para ser o melhor em sua área?
5. Sempre existirão pessoas dispostas a te jogar pra baixo. Ignore-as.
Acompanhei com atenção, nesses últimos dias, os blogueiros e comentaristas especializados em vôlei, que afirmavam que a seleção feminina do Brasil era “zebra”, que não iria muito longe, que tinha que ficar muito contente com a medalha de prata, patati patatá. E as jogadoras dessa seleção fizeram a coisa certa: ignoraram completamente essas críticas, concentrando-se apenas em seu jogo e em seu trabalho. Agir com confiança, ter controle mental, e saber lidar com adversidades são algumas das qualidades que fizeram esse time ter uma campanha incrível nas Olimpíadas.
E você? Pra quê continuar dando bola para as críticas infundadas de gente que mal te conhece?
6. Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.
Assim que concluiu sua apresentação nas argolas, o chinês medalha de prata já estava comemorando antecipadamente a medalha de ouro que nunca viria a conquistar. Olhava para as câmeras e fazia o sinal de “primeiro” (o mesmo que Sebastian Vettel faz quando consegue as poles nos treinos classificatórios da Fórmula 1), como se a competição já estivesse definida. Afinal, tetracampeão mundial, o que poderia dar errado?
Eis que surge o Arthur Zanetti, que, com uma estratégia ousada, não titubeou, e fez uma apresentação perfeita, que lhe rendeu a medalha de ouro, a primeira da história da ginástica brasileira. Méritos totais para ele que, assim como o Murray, a Sarah Menezes e tantos outros campeões olímpicos, apresenta uma dedicação impressionante aos treinamentos. Para quem se dedica tanto, o resultado uma hora vem.
7. Divirta-se.
Só se vive uma vez a vida. Faça como Usain Bolt: não a leve tão a sério. :-D
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!

4 de agosto de 2012

Desconecte-se e veja o que tem lá fora

[Fonte: Desconecte-se e veja o que tem lá fora:]

 Nesses últimos dias tenho pensado muito sobre o assunto, sempre polêmico, da vida on/off que vivemos pelo menos na última década. Depois de vários acontecimentos na vida pessoal e de algumas crônicas que tenho escritos desde os meus 36 anos de vida, e que por algum motivo besta, parei de escrever, comecei a perceber o quanto está nos fazendo falta ver o que existe lá fora.
Mas aí você me pergunta: lá fora onde? Em qualquer lugar. Qual foi a última vez que você saiu de casa simplesmente para “curtir” o nada? Hoje vivemos a rotina da conexão quase 24 horas por dia. Aqueles que trabalham com Informática, como eu, por exemplo, acabam fazendo da vida lá fora uma extensão do que ocorre dentro.
Hoje a maior parte dos profissionais utilizam a tecnologia para trabalhar, por isso, quando saem de seus escritórios (seja ele dentro ou fora de casa) acabam realizando atividades voltadas somente para aquela rotina diária. Em outros momentos saímos para fazer coisas das obrigações da vida adulta, como pagar contas, ir ao médico, levar os filhos para escola etc. Mas esquecemos de sair simplesmente para não fazer nada.
Isso mesmo: nada. É claro que é bom uma vez ou outra rir com os amigos, sair com o namorada ou esposa, levar as crianças ao parque entre outras coisas mais. Mas o problema é que atualmente acabamos levando o mundo on para onde que vamos. Desligamos os computadores físicos da casa e do escritório e nos conectamos em aparelhos mobile em qualquer lugar.
Fico pensando muitas vezes que o ser humano de hoje fica com “medo” de não saber de nada. Recebemos tantas notícias e informação por segundo depois da invenção da internet que quando ficamos poucos minutos sem o acesso a essa ambiente parece que o nosso mundo vai acabar se não soubermos quem é o novo Trend Topics do twitter ou o assunto mais “curtido” do facebook.
Todos estão vivendo um extremo do mundo on/off. Não sabemos mais lidar com as pessoas. Colocamos todos num pedestal como se fossem mártires em estado de perfeição que quando conhecemos essa pessoa em seu cotidiano nos assustamos por ela ser comum como outra qualquer. Não é porque falamos que “conhecemos” alguém na web que isso significa que sejamos “amigos de infância” dela, mas também não é motivo para criar um cavalo de batalha e achar que estamos mentindo só porque não temos intimidade.
Como citado no primeiro no inicio, estou voltando ao velho hábito de escrever crônicas sócio-político… há muito tempo não escrevo e isto faz falta!!!
Então, estou desconectando temporariamente da minha vida on..
Valeu, Galera! Até um dia!!!

Ps.: Texto pego em partes do profissaojornalista.com.br , mas diz tudo a respeito do que passo!!!

2 de agosto de 2012

Uma álgebra diferente

[Fonte: Uma álgebra diferente:]

John Boole era um sapateiro. Mas não era um sapateiro qualquer, era um sapateiro muito especial. Para ser franco, como sapateiro não deveria ser lá grande coisa. Tanto assim que sua sapataria abriu falência em 1831, o que obrigou George, seu filho mais velho, a sustentar a família – pais e dois irmãos – ainda com a idade de 16 anos. Mas o forte de John era seu amor pela matemática. Um amor tão grande que foi ele que levou John à falência, como consta da biografia de seu filho George no Mac Tutor History of Mathematics: “John’s love of science and mathematics meant that he did not devote the energy to developing his business in the way he might have done” (O amor de John pela ciência e matemática fez com que ele não devotasse a energia que deveria ao desenvolvimento de seu negócio).
Afortunadamente este amor foi transmitido ao filho George, a quem John ensinou matemática desde a infância. George, um menino excepcionalmente inteligente, começou a frequentar a escola aos dois anos de idade, algo não muito comum na época. Aos sete, seu interesse voltou-se para o aprendizado de idiomas. Aprendeu latim com William Brooke, um livreiro amigo de seu pai e mais tarde aprendeu sozinho francês, alemão e grego. E tanto aprendeu que aos catorze anos provocou involuntariamente sua primeira controvérsia: verteu do grego para o inglês um poema de Meleager e o fez tão bem que o pai John, orgulhoso, providenciou que fosse publicado. O que levou um professor local cujo nome não importa a levantar a dúvida sobre a autoria da tradução alegando que “any 14 year old could have written with such depth” (nenhuma criança de 14 anos poderia ter escrito com tal profundidade).
George Boole (imagem da Wikipedia)George Boole (Foto: Reprodução/Wikipedia)
Pois foi este jovem, George Boole, que ainda adolescente foi obrigado a aceitar a posição de professor assistente na Heigham’s School, em Doncaster, Inglaterra, para prover o sustento da família em virtude da falência do negócio do pai. E professor continuou – em diversas instituições de ensino, incluindo sua própria escola, que abriu aos dezenove anos em Lincoln, Inglaterra, até o Queen’s College, em Cork, Irlanda, onde foi Reitor de Ciências – até falecer em 1864, aos 49 anos, como membro da Royal Society.
O interesse de George em matemática avançada começou ainda na adolescência. Aos dezoito anos foi presenteado com o livro de Lacroix sobre cálculo diferencial e integral, o que o levou a aprofundar-se no assunto que já vinha estudando há cinco anos. Dedicou-se ao tema por quase toda a vida e sobre ele publicou mais de cinquenta trabalhos, dois dos quais foram especialmente importantes o “Treatise on Differential Equations” em 1959 e o “Treatise on the Calculus of Finite Differences” em 1860. Ao morrer ainda pesquisava o assunto, deixando inacabada uma obra que foi publicada post mortem por seu amigo Isaac Todhunter.
Mas o que isto tem a ver com uma série de colunas sobre o transistor?
Até agora, nada. Porém, no início da década de 1850, um de seus alunos, Augustus De Morgan, envolveu-se em um debate com Sir William Hamilton sobre o conceito lógico de “quantificação”. O que levou Boole a se interessar pelo tema para ajudar o amigo. E quando Boole se interessava por alguma coisa, o mínimo que se pode dizer, usando linguagem contemporânea, é que ele não deixava barato…
Até então Boole não considerava a lógica como sendo um ramo da matemática. Achava que ela apenas fornecia as bases para desenvolver raciocínios usando a inferência (Do Houaiss: Inferência: “operação intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em decorrência de sua ligação com outras já reconhecidas como verdadeiras”). Porém, ao se aprofundar no tema, acabou por desenvolver um método simbólico para estabelecer estas inferências. Método este que permitia que as proposições lógicas fossem expressas por meio de equações algébricas cuja manipulação levava à solução da equação e, por consequência, a resolução do problema lógico.
Simplificando: Boole reduziu a lógica a um tipo de álgebra. Que, muitos anos mais tarde (em 1913), passou a ser conhecida como “Álgebra Booleana” por sugestão de Henry Sheffer. E em 1954 George Boole publicou suas ideias em um trabalho intitulado “An Investigation of the Laws of Thought on Which are Founded the Mathematical Theories of Logic and Probabilities” (Uma pesquisa sobre as leis do pensamento que fundamentam as teorias matemáticas da lógica e da probabilidade). Se algum trabalho pode ostentar o caráter de “seminal” é este .
Se levarmos em conta que o tema é totalmente abstrato e que não havia qualquer base teórica até então para apoiar suas ideias, não há como deixar de considerar o trabalho de Boole uma obra extraordinária, quase surreal. Pois ele, usando exclusivamente sua imaginação, criatividade, capacidade de abstração e, naturalmente, seu gênio matemático, conseguiu construir passo a passo, tijolo por tijolo em um desenho lógico (obrigado, Chico), toda uma ciência até então inexistente, estabelecendo desde as operações fundamentais (aquelas mesmas que discutimos nas colunas anteriores, NOT, AND e OR), até as operações derivadas. E, usando isto como base, instituiu os axiomas da nova ciência, deduziu suas leis e estabeleceu métodos para resolver suas equações. Em suma: pela primeira vez a lógica foi incorporada à matemática.
Em suma: Boole criou uma Álgebra do nada como um mágico tira um coelho de sua cartola.
Convém notar que o trabalho de Boole, tão importante que passou a ser conhecido simplesmente como “Laws of Thought”, foi desenvolvido exclusivamente a partir do interesse despertado em George Boole por sua participação na controvérsia entre De Morgan e Hamilton. Não havia qualquer objetivo, digamos, prático, para que fosse escrito. Nem depois de publicado se vislumbrou para ele qualquer aplicação em engenharia e muito menos em eletrônica, um ramo da tecnologia que só veio a surgir no século seguinte.
Resumindo: em termos práticos, o “Laws of Thought” não tinha qualquer serventia.
E foi tratado de acordo: tanto quanto eu saiba, na ocasião em que foi publicado, ninguém deu qualquer importância a ele. Ninguém exceto o próprio Boole, naturalmente. Que percebeu estar ali uma das obras mais importantes jamais publicadas, a base da tecnologia moderna, os fundamentos sobre os quais se assentam a concepção de tudo o que diz respeito às ciências da informática e telecomunicações. E que, mostrando uma espantosa capacidade de previsão, mesmo desconhecendo inteiramente os campos nos quais sua álgebra seria empregada, pouco antes de publicar seu trabalho, em 1851, escreveu uma carta para seu colega e matemático Lord Kelvin afirmando:
I am now about to set seriously to work upon preparing for the press an account of my theory of Logic and Probabilities which in its present state I look upon as the most valuable if not the only valuable contribution that I have made or am likely to make to Science and the thing by which I would desire if at all to be remembered hereafter” (No momento me dedico à preparação para publicação das bases de minha teoria sobre Lógica e Probabilidade que, em seu estado atual, eu considero a mais valiosa – senão a única valiosa – contribuição que fiz ou que provavelmente farei à ciência e, de todas, aquela pela qual eu desejo ser lembrado no futuro) .
Que notável o poder de antevisão de um gênio! Pois, justamente em virtude desta teoria, não apenas ele é lembrado até hoje como provavelmente jamais será esquecido.
A razão disto veremos na próxima coluna.
Até lá.
B. Piropo

Aplicativo permite transferência de arquivos pelo som

[Fonte: Aplicativo permite transferência de arquivos pelo som:]

Poder transferir arquivos pelo Wi-fi ou Bluetooth usando celulares mais modernos é algo bastante comum, mas você já pensou o quão trabalhoso ou até mesmo inviável seria distribuir algo para centenas, milhares de pessoas? Pois um aplicativo gratuito que acaba de ser lançado para dispositivos iOS pode estar prestes a revolucionar a maneira como enviamos imagens, contatos, textos e URLs de um aparelho para outro.
Criado por uma empresa chamada Animal Systems, o grande diferencial do Chirp e utilizar sons para fazer essas transferências e a única coisa que precisamos fazer é abri-lo, escolher o que deverá ser compartilhado e então um som parecido com o de um pássaro (ou seria com o R2-D2?) será emitido. Os desenvolvedores admitem que no futuro podem fazer com que algo seja enviado a apenas uma pessoa, mas não é esta a intenção.
De forma resumida, tudo funciona com o sistema utilizando um protocolo de áudio e outro de rede para fazer a transferência dos dados, enviando-os para a nuvem e então gerando um código que será convertido em som e posteriormente interpretado pelo programa no dispositivo do destinatário, basicamente funcionando como um link de internet.
Embora o programa exija uma conexão com a web para funcionar, há de se dizer que é possível solicitar o envio mesmo quando estivermos offline, já que o processo será concluído assim que nos conectarmos e mesmo em ambientes com muito barulho ele compre seu papel, pois o programa foi otimizado para ouvir os tons específicos que são gerados.
Agora, se você não conseguiu imaginar uma utilização prática para o Chirp, imagine chegar a uma sala para dar uma aula e através de um único comando, conseguir compartilhar com todos os seus alunos um site com mais informações sobre uma determinada matéria ou então, um anunciante passar para os telespectadores de um programa de TV uma página especial sem precisar que eles anotem uma URL esdrúxula, já que o simples som já faria o site abrir em sus smartphones ou tablets.
Enfim, as possibilidades são enormes e embora seja difícil prever quando uma ideia se tornará padrão, acho muito provável que alguma gigante já esteja de olho na tecnologia e não me espantarei se em breve o Twitter deixar de ser o único passarinho a cantar na internet.

[via Computer World]