3 de abril de 2011

O SILÊNCIO DA ALMA

É deveras intrigante, como cada vez mais estamos produzindo barulho. Somos fazedores de barulho o tempo todo e na mesma proporção nossa alma clama por silêncio. Andando pelas ruas nossos ouvidos captam todo tipo de ruídos, muitos, estranhos à nossa audição. E esse barulho exterior induz nosso interior a ficar em alerta constante. Tem sido comum, se observarmos os transeuntes nas ruas, percebermos pessoas, sozinhas, balbuciando palavras e até mesmo ensaiando algum gesto. É a conversa interior que não para. É o reflexo do mundo exterior que não nos permite a paz interna. Somos vítimas das cobranças, exigências, compromissos, obrigações sociais que não nos deixa espaço para o silêncio da nossa alma. Silêncio esse que é o caminho mais curto para a paz e a reflexão, fatores decisivos para que tenhamos o controle e a lógica em nossas ações e decisões no mundo exterior.

É dever nosso, para conosco mesmos, propiciar à nossa alma esses momentos de calmaria, que certamente ela os aproveitará para conectar-se com seu Criador. Isso pode acontecer no recesso do nosso lar, num templo qualquer ou numa floresta. É preciso que tomemos consciência disso e não releguemos a segundo plano essas verdades, apelidando esses cuidados de “bobagens de psicorreligiosos”. A verdade é que, embora não percebamos, em virtude do barulho e agitação à nossa volta, o nosso organismo nos envia constantemente sinais que precisam ser levados a sério e analisados. Sinais físicos, emocionais e espirituais que se bem entendidos podem nos ajudar muito em nosso comportamento. Mas para ouvi-los é necessário que nossa alma esteja em repouso. É necessário que nos desliguemos do mundo exterior e treinemos nossa mente para ouvir o silêncio. Temos notícia de que a mais bela das sinfonias de Beethoven, a 9.ª, foi composta no silêncio de sua surdez.

O que tem impedido o homem contemporâneo de praticar o silêncio interior é o número extremamente exagerado de informações que somos obrigados a decodificar diariamente, além do medo de se entregar. Pois baixar a guarda, se recolher na inércia, pode parecer ao mundo alucinante que vivemos, fracasso. E isso não é permitido a quem busca o sucesso e a glória.

Como diz o Dr. Augusto Cury, nossa sociedade está padecendo da Síndrome do Pensamento Acelerado – SPA, que só em São Paulo já atinge 25% da população. Então nos parece que, viver numa aldeia de cimento, à sombra de arranha céus, destoa totalmente de vida saudável. A menos que tenhamos a sabedoria de nos proteger de tão maléficas influências.

Assim, cabe a nós e somente a nós, a opção de ser feliz ou de se deixar engolir pelas exigências modernas. Só não podemos nos esquecer que, nós não somos o conjunto do que temos, mas o somatório de tudo que somos.

    José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com