27 de junho de 2010

Razão e Emoção

Razão e Emoção

O escritor libanês Khalil Gibran escreveu certa vez que "a vossa alma é muitas vezes um campo de batalha, em que a vossa razão e o vosso julgamento estão em guerra contra a vossa paixão e o vosso apetite".  Esse pequeno trecho do livro "O profeta" traz a luz a dicotomia existente na cabeça (e no coração) de cada ser humano.

São várias as situações no dia-a-dia que nos levam a pensar duas vezes antes de agir. Talvez com o passar do tempo passamos a enxergar as situações do cotidiano sob novo prisma e somos levados a, talvez temperados pela sucessão de situações já vividas, a dominar a emoção e fazer melhor uso da razão.

Os 12 trabalhos de Hércules já ensinavam sob a figura alegórica do mito que a saída das situações é o uso da cabeça, da reflexão. Dotado de força sobrehumana, literalmente quebrava a cara quando tentava resolver problemas apenas com o uso da força. Porém, quando fazia uso do pensamento crítico e racional, tal como no episódio onde limpou os currais do rei Aúgias desviando o fluxo de rios, ele verdadeiramente solucionava problemas.

De qualquer maneira essa dialética é constante na vida do homem pois nos vemos algumas vezes em situações onde temos a razão obscurecida pelo fervilhar de emoções sejam elas emoções más como a raiva ou a ira  ou emoçoes boas como a paixão. Talvez você já tenha passado por situação semelhante onde quando caiu em si percebeu que havia tomado uma decisão por impulso e caso tivesse pensado com calma e usado a razão não teria tomado o mesmo caminho.

Ao pesquisar a respeito e até mesmo conversar com amigos percebemos que a maior parte das pessoas irá defender a preponderância da razão sobre a emoção sempre e em qualquer situação. Alguns argumentam ainda que a emoção não controlada, não aprisionada, seja uma fraqueza. Porém, vamos tentar analisar um pouco melhor essa discussão: Aristóteles distinguiu as virtudes do homem entre aquelas derivadas da razão, ou virtudes intelectuais como o bom senso e também as derivadas da emoção como por exemplo a justiça e a coragem. Para o grego, ambas deviam conviver pois tem seu valor.

Ou seja, ele valorizou cada um dos lados e procurou encontrar a Justa Medida que deve ser buscada por cada pessoa. As filosofias orientais também conhecem esse pensamento e chamam de "O Caminho do Meio", ou seja, o equilíbrio que deve ser encontrado em situações antagônicas. Porque não deixar ocorrer esse bom combate? Afinal, não está a dualidade sempre presente? Para que discutir por exemplo se o melhor é saber a teoria ou ter a prática? Você precisa dos dois!

Não estou defendendo que devemos viver apenas orientado a sonhos, mas sim que devemos aprender a fazer o bom uso das emoções, da intuição e saber dosar isso com o uso da razão.

Concluo citando mais uma vez Gibran, o qual apimenta essa discussão dizendo "a vossa razão e a vossa paixão são o leme e as velas da vossa alma navegante. Se um de vós navegar e as velas se partirem, só podereis andar à deriva ou ficar imóveis no meio do mar. Pois a razão, só por si, é uma força confinante; e a paixão, não controlada, é uma chama que arde provocando a sua própria destruição".

Tiago Baciotti Moreira, 27 de junho de 2010.

15 de junho de 2010

SUA MAJESTADE, A BOLA

É interessante pensar a vida a partir da bola. Afinal todos nós já tivemos pela vida afora algum momento de contato e de intimidade com ela. Antes de nascer vivemos nove meses dentro de uma. Depois, sugamos nosso primeiro alimento agarrados, grudados numa bola, que anatomicamente nos completa. Depois, o primeiro brinquedo, especialmente se formos um garoto, é uma bola. Vivemos na terra que é uma bola e durante a vida é comum sentirmo-nos numa bola de neve.
Por outro lado, na adolescência e juventude, nosso esporte seguramente é o futebol, hoje para ambos os sexos. Comigo, como não poderia ser diferente, tive meus minutos de glória ao disputar uma partida oficial – Estádio Palma Travassos – quando em derrota fragorosa, para o Comercial, tive o privilégio de marcar o único gol do meu time. Hoje não sou torcedor de nenhuma camisa, talvez por ver o sonho virar comércio e o ideal negociata. Embora, por solidariedade a dois filhos, nutra simpatia pela rubro-negra. Mas quando o Brasil entra em campo, o patriotismo fala mais alto, o Hino Nacional tem um som diferente e realmente o coração vibra mais forte. É talvez o momento em que os brasileiros são 100% solidários, pois são nessas horas, quando os sentimentos afloram de maneira intensa, que o nosso consciente bloqueia outras preocupações, para que o cérebro consiga administrar tanta emoção.
Estamos agora em plena Copa Mundial e já nos preparando para a próxima, da qual seremos sede e que, essa sim, será nosso desafio maior. Pois, podemos até perdê-la dentro do gramado, mas imperiosamente teremos que vencê-la como anfitriões.  E aqui meu temor é grande, pois é uma situação que envolve política e grandes somas em dinheiro, dois ingredientes, que em nosso país, tem dado provas de produzir bolos absolutamente intragáveis.
Torçamos, e por que não, oremos, já que Deus é brasileiro, para que possamos, pelo menos agora, coadunar futebol com seriedade, beleza com eficiência e gastos com honestidade.
Além disso, nossa responsabilidade é enorme com relação a infraestrutura. Estaremos prontos dentro de 4 anos?  Só para citar um exemplo: Para o especialista em uso racional da água, Paulo Costa, diretor da empresa H2C, embora o Brasil seja o primeiro país em disponibilidade de água doce do mundo, a poluição e o uso inadequado comprometem o recurso em várias regiões do país. Essa é uma preocupação sua em relação ao consumo de água durante a Copa. Diz ele: “Como justificar que o país que detém 13% da água doce do mundo, não possui políticas ambientais consistentes para o tema e pode vivenciar racionamento de água durante os maiores eventos esportivos do planeta?”
Bem, cabe às autoridades competentes e responsáveis a ação profícua, no sentido de planejamentos e execuções para que, quando sua majestade entrar no tapete verde, possamos cantar com Jorge Ben Jor : Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza!

José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com