16 de novembro de 2009

Valoração Humana

Quando refletimos sobre a pessoa humana, uma busca inquietante que percebemos é a procura pela felicidade. Por quê? Qual é a razão que leva o ser humano a buscar com tanta sofreguidão esse bem? E o que é na realidade essa tal felicidade? Tratados, livros, poemas, discussões infindas já se ocuparam desse tema e ainda há tanta desgraça no mundo. Por quê?
Bem, primeiramente entendemos que somos criaturas e como tais temos um criador, que também segundo nossa fé é Deus, eterno, onisciente e onipotente. Aceitamos também que Deus nos criou para sermos felizes. Esse foi e é o único objetivo do Criador. Assim sendo é tendência natural que a criatura busque seu criador. Estar em sua presença é para ela o máximo bem, a felicidade, o céu. Não é isso  que observamos, por exemplo, entre o recém-nascido, a criança e sua mãe? Mas como chegar a tanto? Aí está  a questão da valoração. Uma série de fatores, com preponderância para o meio ambiente, leva a pessoa a estabelecer uma escala de valores em sua vida, sempre perseguindo a felicidade.
Vejamos, podemos imaginar como exemplo, o seguinte esquema da valoração humana: numa visão ampla da vida, o que eu chamaria de “macrovisão” e obedecendo uma ordem socioestrutural, colocaríamos em primeiro lugar a saúde. É necessário que o indivíduo nasça bem, cresça saudável, perfeito. É claro, não é nossa intenção discutir as condições desse nascimento. Estamos trabalhando com tese. Em segundo lugar viria o trabalho. Toda pessoa precisa se sentir útil, produtiva, criadora, engajada no cosmos e na história.  Por último a família, pois para constituir uma família a pessoa primeiro precisa ter como mantê-la. Além disso o homem é um ser essencialmente político. Ele precisa do seu semelhante para se relacionar, para se situar. Pois bem, nessa escala encontramos um ser humano livre, que é uma condição para a felicidade. E essa liberdade se manifesta em três dimensões: exteriorização – que seria a relação com o exterior, do agir aqui e agora; interiorização – que seria o relacionamento consigo mesmo, é entrar no âmago de sua personalidade, onde a revelação se dá apenas de si para si mesmo e a transcendência – que seria a busca de um ser supremo. É quando o homem se dá conta de sua finitude e carece de uma ajuda superior.
Nosso raciocínio, porém, não pára aqui. Ainda seguindo o mesmo esquema, numa visão menor, uma “microvisão” e agora obedecendo uma ordem psicoemocional, a nossa ordem de valores seria, em primeiro lugar o relacionamento conjugal, que em sendo bom, propicia ao ser humano a  alegria de viver. Em segundo lugar a saúde, pois a alegria de viver é uma condição para se ter boa saúde. E por último o trabalho, o qual para ser eficiente, necessita  uma infra-estrutura emocional proporcionada pela família e pela saúde, além de premiar o indivíduo com a   satisfação pessoal de ser provedor do bem.
Isso posto, entendemos que se estabelecermos uma inter-relação coerente e dinâmica dessas duas visões é possível chegarmos ao sucesso social, que, no mundo capitalista e numa aceitação profana, teríamos a felicidade. Porém, entendendo que o homem não é só matéria, é fácil perceber que isso não bastaria. Então, carecemos de preencher também nosso espírito e aí entra a religião. Só através desse religare, dessa volta ao seu criador, é possível a essa criatura, encontrar a satisfação plena – a felicidade.
Voltando então ao início do nosso raciocínio, tentando explicitar as perguntas propostas, poderíamos dizer que: o homem busca a felicidade porque é uma tendência natural da criatura, felicidade essa que não é outra coisa senão a satisfação psicoespiritual do ser e, é claro, se essa busca for apenas para satisfações temporais, não satisfaz ao espírito, daí a angústia, o desprazer, a infelicidade.
Evidentemente que nosso raciocínio não se atrela aqui, a situação políticossocial, que seria objeto de outra linha de pensamento.
Finalizando podemos concluir que o ideal é conseguirmos um equilíbrio em nossos valores. Dar à carne o que é da carne e ao espírito o que do espírito sem extremismos, até porque a felicidade não existe por si só. Ela está em alguém. E cabe a cada um, através da sabedoria, descobri-la.
Resolver ser feliz só depende de você!
José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com

4 de novembro de 2009

A decantada democracia

Desde os idos tempos da antiguidade clássica, que romanos e gregos já reverenciavam essa forma de governo que se propõe ser a mais justa e adequada à convivência humana. Porém sabemos que sua história é repleta de incoerências e interpretações eiradas de conveniências.
Etimologicamente esse conceito nos sugere que o povo é quem governa. (Demo + cracia) governo do povo. Sugere também que, com ela, a vontade coletiva ou da maioria está sendo respeitada através da representatividade. Mas hoje, e especificamente no Brasil, são tantas as máscaras que colocam nessa forma de governo, que acabam travestindo-a em faces encantadoras, então aplaudidas pelos menos avisados, mas que na verdade esconde uma realidade cruel sustentando o governo de uma minoria. Onde está a vontade da maioria, por exemplo, quando vemos milhares de pés de laranja serem destruídos pura e simplesmente pela decisão de um grupo que nem identidade social tem? Portanto, juridicamente, nem existe? Essa ação vai despertar realmente a atenção das autoridades para o problema agrário? Por exemplo, a questão da monocultura?  Todos sabemos que existem muitos erros em relação à reforma Agrária, mas algum deles justifica esse?  Onde está a vontade da maioria, quando o Congresso Nacional, composto por nossos representantes legítimos, decide coisas sabidamente polêmicas e que na verdade vem de encontro a vontade popular? Exemplo A PEC 336/2009. Agora mesmo, precisamos acompanhar para ver no que dá, o projeto de iniciativa popular, avalizado por 1,3 milhão de assinaturas e  batizado de “Ficha Limpa”, que impede a candidatura de pessoas com certas pendências judiciais. Muitos dos que vão votar esse projeto, são exatamente os “Fichas Sujas”. E aí? Quem está acostumado a legislar  sempre em causa própria vai agora atender o clamor da massa?
Essa é a nossa democracia. A forma de governo que escolhemos e da qual poderíamos dizer: ruim com ela, pior sem ela. Mas é possível melhorá-la e fazê-la realmente representativa. Justamente com iniciativas como o Projeto de Lei encabeçado pelo (MCCE) Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral formado por 42 entidades. É tomando consciência da nossa força, como cidadão-eleitor, que podemos contribuir para a mudança. Claro que essa conscientização não cai do céu. É preciso buscá-la através da instrução, da leitura, da escola, da igreja, enfim da freqüência a ambientes sadios e da companhia de pessoas dignas.
Fora isso, só nos resta mesmo a constatação de Eça de Queiroz: “Os políticos e as fraldas devem ser mudados constantemente e pela mesma razão”

José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com