3 de abril de 2011

O SILÊNCIO DA ALMA

É deveras intrigante, como cada vez mais estamos produzindo barulho. Somos fazedores de barulho o tempo todo e na mesma proporção nossa alma clama por silêncio. Andando pelas ruas nossos ouvidos captam todo tipo de ruídos, muitos, estranhos à nossa audição. E esse barulho exterior induz nosso interior a ficar em alerta constante. Tem sido comum, se observarmos os transeuntes nas ruas, percebermos pessoas, sozinhas, balbuciando palavras e até mesmo ensaiando algum gesto. É a conversa interior que não para. É o reflexo do mundo exterior que não nos permite a paz interna. Somos vítimas das cobranças, exigências, compromissos, obrigações sociais que não nos deixa espaço para o silêncio da nossa alma. Silêncio esse que é o caminho mais curto para a paz e a reflexão, fatores decisivos para que tenhamos o controle e a lógica em nossas ações e decisões no mundo exterior.

É dever nosso, para conosco mesmos, propiciar à nossa alma esses momentos de calmaria, que certamente ela os aproveitará para conectar-se com seu Criador. Isso pode acontecer no recesso do nosso lar, num templo qualquer ou numa floresta. É preciso que tomemos consciência disso e não releguemos a segundo plano essas verdades, apelidando esses cuidados de “bobagens de psicorreligiosos”. A verdade é que, embora não percebamos, em virtude do barulho e agitação à nossa volta, o nosso organismo nos envia constantemente sinais que precisam ser levados a sério e analisados. Sinais físicos, emocionais e espirituais que se bem entendidos podem nos ajudar muito em nosso comportamento. Mas para ouvi-los é necessário que nossa alma esteja em repouso. É necessário que nos desliguemos do mundo exterior e treinemos nossa mente para ouvir o silêncio. Temos notícia de que a mais bela das sinfonias de Beethoven, a 9.ª, foi composta no silêncio de sua surdez.

O que tem impedido o homem contemporâneo de praticar o silêncio interior é o número extremamente exagerado de informações que somos obrigados a decodificar diariamente, além do medo de se entregar. Pois baixar a guarda, se recolher na inércia, pode parecer ao mundo alucinante que vivemos, fracasso. E isso não é permitido a quem busca o sucesso e a glória.

Como diz o Dr. Augusto Cury, nossa sociedade está padecendo da Síndrome do Pensamento Acelerado – SPA, que só em São Paulo já atinge 25% da população. Então nos parece que, viver numa aldeia de cimento, à sombra de arranha céus, destoa totalmente de vida saudável. A menos que tenhamos a sabedoria de nos proteger de tão maléficas influências.

Assim, cabe a nós e somente a nós, a opção de ser feliz ou de se deixar engolir pelas exigências modernas. Só não podemos nos esquecer que, nós não somos o conjunto do que temos, mas o somatório de tudo que somos.

    José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com

16 de outubro de 2010

Política X Políticos

O dia “D” se aproxima.
Estamos vivendo momentos de grande importância para a sociedade brasileira – as eleições em sua etapa final. É o momento então de refletirmos com toda a seriedade que o fato requer. Às vezes num momento de desencanto, falamos mal da política e por conseguinte dos políticos. Em relação à política não temos que falar mal nem bem. Ela em si não tem vontade própria. Ela é apenas uma ciência e uma bela ciência. Na verdade ela faz parte da nossa vida mais do que imaginamos. Desde a hora que nos despertamos pela manhã até à hora de dormirmos, e até mesmo enquanto o fazemos, portanto, por vinte e quatro horas por dia a política está nos influenciando. Assim sendo não adianta fugirmos de seus efeitos, negando sua influência. Temos sim é que modificá-los, agindo com coerência na hora “h” e cobrando depois.
Quanto aos políticos, esses sim, têm vontade própria e bem própria. Principalmente se falarmos da vontade política. Pois bem, diz uma amiga minha que na verdade só existe dois tipos de políticos: os que querem o poder e os que detêm o poder. No que concordo com ela e digo mais. Os primeiros são hábeis, sábios e generosos, pois manipulam a arte política com muita maestria, sabem com precisão a solução para todos os problemas e se doam à população exaustivamente participando e apoiando todo evento popular, toda confraternização, toda festa, velório etc. Já os segundos, coitados, são vítimas de mil contingências. De programas amarrados na gestão anterior, de projetos faraônicos inexeqüíveis e problemas com a adequação às leis.
Uma terceira vertente nessa situação é a questão do eleitorado. É o eleitor a causa e a conseqüência de tudo isso. Causa porque é o verdadeiro patrão desse empregado chamado político, pois na verdade, é quem os nomeia e os paga. Apesar disso não vê o retorno merecido e devido, ficando sem saúde, sem educação e sem infraestrutura (leia-se estradas), sendo portanto esse cidadão desamparado a conseqüência dessa desvontade política.
E daí? Daí que o eleitor precisa tomar consciência de que é detentor da única arma realmente eficiente na luta contra esse caos – o voto. E que jamais deve colocar seu voto na banca da feira eleitoreira e fazer dele um objeto de barganha barata.
Se você eleitor, forçado por circunstâncias adversas, vende seu voto por alguns metros de muro pré-moldado, por uma consulta a um especialista ou mesmo por uma cesta básica, você está simplesmente cooperando para a perpetuação desse estado de coisas. Sendo, portanto, essa situação de inteira responsabilidade sua. Portanto fiquemos atentos a quem nós vamos ajudar a eleger. Conhecemos seu passado? Temos informações seguras sobre sua vida familiar? Profissional? E mesmo política? Sabemos se já exerceu outros cargos nos quais demonstrou competência? Seu discurso de agora está coerente com o que disse ou fez outrora? Suas atitudes tem falado mais alto que sua voz? Esse é o caminho. Não sendo assim, não adianta chorar o leite derramado depois.
Evidentemente que não podemos e não estamos generalizando. Há políticos confiáveis. Existem homens que estão fazendo as leis para cumprirmos e que estão imbuídos de bons princípios, mas existem muitos, e infelizmente são em maior número, que aviltam a boa fé do homem simples e desprezam a coisa e a causa públicas.
Se não for por esse caminho, jamais separaremos o joio do trigo. Não temos outra saída, a não ser, para aqueles que têm fé, pedir a ajuda Divina.

José Moreira Filho
          Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com

24 de setembro de 2010

ELEIÇÕES

Estamos num ano eleitoral. Mais uma vez iremos às urnas para escolhermos aqueles que queremos para nos representar e gerir nosso destino enquanto sociedade, tanto na alçada estadual quanto na federal. Hoje felizmente com urnas seguras, eficazes e até modelo para outros países,
Eleição direta e secreta é uma conquista bem recente. Todos sabemos que do início da República até meados do século passado o "voto de cabresto" é o que realmente vigorava. Hoje não existe mais esse tipo de "coronéis", tão explícitos e naturais. O voto deve ser secreto, mas muitos de nós ainda permitimos que nos cabresteiem vergonhosamente, que tentem comprar nosso voto com promessas de todo tipo, com favores, barganhas, cestas básicas e tantas outras estratégias nada democráticas.
A responsabilidade por esse jogo vergonhoso é toda daquele que se permite manipular. Temos que valorizar a nossa escolha, ter senso crítico, votar e depois acompanhar o trabalho do nosso candidato, questionar sua atuação e cobrar. Mas na grande maioria das vezes, depois de alguns dias sequer nos lembramos em quem votamos. Daí fica muito difícil e somos obrigados a conviver com todo tipo e diversidade de corrupção, desvios de verba pública, favorecimentos ilícitos, cartões corporativos, etc. Se nossos políticos, próximos ou não, atuam mal, a culpa é sempre nossa, com ou sem justificativas.
Portanto, desconfiemos sempre dos políticos que sobem nos palanques e só criticam os adversários e seus planos de governo e dizem pouco de seus próprios planos. Desconfiemos dos políticos que prometem resolver problemas fora de sua alçada; que fazem promessas miraculosas, quando não vazias; desconfiemos dos políticos que quando questionados, divagam, fingem responder ou respondem outra coisa insultando a inteligência de quem pergunta ou de quem assiste ao debate; desconfiemos dos políticos que só nos reconhecem na época de eleições e até nos chamam pelo nome, que dizem que a educação é prioridade, que a saúde é prioridade e que o emprego é prioridade mas que nunca saem dos discursos. Observemos o respeito no trato com os adversários e com o povo. Observemos a transparência das ações e a possibilidade do cumprimento das promessas. Enfim, fiquemos severamente de olho nos "salvadores da Pátria".
Não saberia dizer se o brasileiro sabe votar ou não. Só com muita certeza afirmo que os políticos são tão bem preparados, tão bem treinados e produzidos para disputar as eleições que nos confundem e nos enganam. Fica difícil "separar o joio do trigo".
Outras certezas : temos de nos ligar mais , descobrir os bons políticos que estão no processo, porque existem; não nos acostumarmos jamais com as falcatruas que vemos a todo momento em todas as esferas públicas e lutar para que os verdadeiros valores com os quais fomos educados realmente triunfem.
Lembro-me de Maquiavel quando em sua obra "O Príncipe" diz que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Realmente os fatos estão aí para quem quiser ver.
Mas me lembro também que enquanto existir o ser humano, a esperança também existe.


José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com

22 de agosto de 2010

Egrégora

E G R É G O R A

As necessidades psicossociais do mundo atual nos faz lembrar esse vocábulo, egrégora, pouco conhecido, mas que com certeza se levado a sério pode nos ajudar a melhorar  muito nossa vida em comunidade.
Primeiramente tentemos defini-lo: egrégora é uma palavra de origem grega. É um conceito de pouco uso, tanto que não consta de dicionário. Vem do grego egregoroi que significa força, energia. Porém essa potencialização só seria possível pela união. Uma só pessoa jamais poderia criar uma egrégora. Ela só existe a partir da fusão de fluídos, vontades, desejos, intenções de mais de uma pessoa. Isso já é provado cientificamente para os crentes na ciência e espiritualmente para os imbuídos da fé cristã.
“Pois onde se acham dois ou três reunidos
em meu nome, aí estou eu no meio deles.”
Mateus 18:20.
Na ciência médica, por exemplo, há como medir essa energia através de uma técnica, criada talvez acidentalmente, por um técnico eletricista russo chamado Semyon Davidovich Kirlian, a chamada Kirliangrafia, ou, mais recentemente a bioeletrografia. (será melhor explicitada em outra crônica nesse mesmo trabalho). Com esse processo mede-se o que os especialistas chamam de aura.
Portanto todos nós possuímos essa energia, que é invisível, mas real e que em somatório com outras produz efeitos positivos ou negativos, benéficos ou danosos, dependendo do grau de consciência e controle do grupo originário dessa egrégora. É impossível nos livrar de sua influência. Podemos sim, controlá-la a partir do conhecimento de sua existência e da consciência de seu poder, porém jamais sozinhos, sempre em união com uma ou mais pessoas. O desconhecimento dessa força é muito prejudicial para uma comunidade. Carl Jung já caminhara nesse sentido trabalhando o que ele chama de “inconsciente coletivo”.
Devemos ter consciência também que todo grupamento humano, reunido com determinado objetivo é criador de sua egrégora. E como um ser vivo ela se alimenta da produção vital de seus criadores. Daí, se um grupo produz inveja, ódio, rancores, a egrégora desse grupo se fortalece cada vez mais com esse vitamínico fluído. Por isso é que se diz que violência gera violência. Por outro lado, se alimentarmos nossa egrégora da família, do clube, ou do trabalho, com amor, solidariedade, justiça, enfim, de intenções saudáveis, ela tenderá a nos induzir a continuarmos cada vez mais fortalecidos desses sentimentos.
Outro aspecto importante nesse estudo é termos conhecimento da incompatibilidade das egrégoras. As semelhantes são incompatíveis. Por exemplo: um homem pode ter uma egrégora de família, outra de time de futebol, outra de igreja, etc. Porém não daria certo para esse mesmo homem alimentar as egrégoras de duas famílias, dois times ou duas religiões.
Concluindo, podemos entender que seria relativamente fácil conduzir a humanidade para um caminho de menos violência, mais harmonia e paz.  O difícil é que não podemos fazer isso sozinhos. Dependemos do outro. Precisamos uns dos outros para criarmos nosso ambiente saudável e benéfico. Mas termos consciência disso já é o primeiro passo.
Caminhemos...

José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com

5 de agosto de 2010

Ser Pai

Ser Pai

Ser pai é ser teleológico
é se projetar para o futuro.
É acreditar na vida mesmo depois da morte.
Ser pai é exigir, treinando a tolerância.
É ensinar sem interferir.
É assistir ao erro torcendo pelo acerto.
É falar sem ser ouvido, é ser deixado para depois.
É abrir caminhos e sinalizar fronteiras.
É saber que sua experiência serve para você, o seu filho deverá ter a dele.
Ser pai é nascer várias vezes, talvez a cada década, mas a cada vez com uma alma nova, com um espírito diferente.
Ser pai é ter fé, é acreditar que o amanhã será melhor que o hoje.
Ser pai é caminhar para o paraíso, mesmo sem a certeza de alcançá-lo.
É deixar pegadas o mais nítidas possível, mesmo sabendo que poderão não ser seguidas.
Ser pai é sentir a dor do filho, é rir o seu riso, é curtir a sua vitória, é formar-lhe o  caráter com palavras tão suaves como mãos habilidosas que moldam um vaso de argila. E com toques sutis fortificar sua vontade de vencer.
Ser pai é dar asas à imaginação, é sonhar um filho rico, poderoso, artista, jogador de futebol, cientista... e talvez, depois, segurar a frustração com alegria nos lábios.
Ser pai é, muitas vezes, abrir mão de carinho, de atenção, de elogios, que a mãe, nem sempre com justiça, precisa direcionar aos filhos. Mas acima de tudo, ser pai é ser abençoado. É colaborar com Deus para o aparecimento de uma nova vida. É ser co-participante do Plano da Criação.
Ser pai é ser um Oleiro Sagrado.

José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com

MINHA HOMENAGEM A TODOS OS PAIS

10 de julho de 2010

A Metafísica do Futebol

A Metafísica do Futebol

Observando as Razões da Derrota
Brasileira na Copa do Mundo de 2010

Sílvia Lúcia de Oliveira

"... Assim como hoje o povo do Brasil usa a força do
 pensamento de modo pouco eficaz, com a esperança de obter
metas futebolísticas e de escassa importância real, no futuro o
mesmo povo poderá usar essa força para superar seus desafios
culturais, econômicos, sociais e ambientais." [1]

Perdemos, pois nem sempre se pode ganhar. Óbvio.

Perdemos, porque o time adversário estava vivo, correndo no campo, jogando, disputando a bola e mirando o gol. Óbvio.

Perdemos, posto que para fazer um gol, além do talento, há de se ter um sopro de certeira boa sorte.  Assim como a bola por um triz entra, por outro triz fica de fora da trave que separa o sucesso do fracasso. No placar não são contados os quase gols. Óbvio.

Perdemos, porque há variados talentos, esforços e sortes distribuídos em todas as nacionalidades; não são patrimônios exclusivamente brasileiros. Óbvio.

Perdemos porque não se pode ganhar sempre o jogo, e era só um jogo.  Óbvio.

Tudo isto absolutamente óbvio. Pois estas obviedades trazem lições para a vida, ou podem trazer se forem analisadas.  Muita sabedoria está assim, ao alcance de quem observa aquilo que lhe salta aos olhos. A vida é generosa em situações óbvias, mas a mente desatenta não as enxerga. Absorta em milhares de distrações, pouco reflete e vai perdendo preciosas oportunidades de aprender, de evoluir.

As vivências cotidianas só nos servirão de lembranças se estiverem ligadas a algum aprendizado e aprendemos muito mais coisas com as derrotas do que com as vitórias.  Porém, se buscarmos nas prateleiras de uma livraria,  encontraremos ampla variedade de títulos sobre o mesmo tema: receitas de sucesso.  Se seguidos à risca todos os passos recomendados, raramente alcançamos o mesmo resultado dos autores destes livros.

O sucesso parece como aquela água que se vê ao longe sobre a estrada e que, ao nos aproximarmos, descobrimos ser apenas uma ilusão de ótica. Os sucessos – em quaisquer áreas - são fugazes, passageiros, perigosamente ilusórios. As glórias alcançadas costumam vir acompanhadas da traiçoeira fama, inspirando orgulho e vaidade; insuflando o ego com arrogante autoconfiança. Seu efeito mais danoso pode ser constatado nos percursos meteóricos de alguns conhecidos personagens do mundo das artes e dos esportes - carreiras promissoras destruídas pelos excessos de dinheiro e de fama.

Já as decepções, se bem aproveitados, são capazes de promover positivas transformações.  As derrotas colocam as coisas no seu devido lugar: demonstram a fragilidade humana. Os fracassos são férteis semeadores de pensamentos virtuosos: humildade, autocrítica construtiva, reconhecimento do valor alheio, solidariedade.

Da recente frustração futebolística se podem colher vários aprendizados: a Copa do Mundo não era brasileira por antecipação; os bem pagos jogadores não são heróis e nem estavam a serviço da salvação da pátria. E a pátria amada Brasil tem coisas mais importantes para pensar e para resolver. Óbvio.

NOTA:
[1] Carlos Cardoso Aveline, "O Brasil e a Força do  Pensamento", http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=409 . (Seção temática "Brasil",  em www.filosofiaesoterica.com . )

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O artigo acima foi publicado também no jornal diário "Agora", na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.  Título original: "Perdemos. Óbvio."
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27 de junho de 2010

Razão e Emoção

Razão e Emoção

O escritor libanês Khalil Gibran escreveu certa vez que "a vossa alma é muitas vezes um campo de batalha, em que a vossa razão e o vosso julgamento estão em guerra contra a vossa paixão e o vosso apetite".  Esse pequeno trecho do livro "O profeta" traz a luz a dicotomia existente na cabeça (e no coração) de cada ser humano.

São várias as situações no dia-a-dia que nos levam a pensar duas vezes antes de agir. Talvez com o passar do tempo passamos a enxergar as situações do cotidiano sob novo prisma e somos levados a, talvez temperados pela sucessão de situações já vividas, a dominar a emoção e fazer melhor uso da razão.

Os 12 trabalhos de Hércules já ensinavam sob a figura alegórica do mito que a saída das situações é o uso da cabeça, da reflexão. Dotado de força sobrehumana, literalmente quebrava a cara quando tentava resolver problemas apenas com o uso da força. Porém, quando fazia uso do pensamento crítico e racional, tal como no episódio onde limpou os currais do rei Aúgias desviando o fluxo de rios, ele verdadeiramente solucionava problemas.

De qualquer maneira essa dialética é constante na vida do homem pois nos vemos algumas vezes em situações onde temos a razão obscurecida pelo fervilhar de emoções sejam elas emoções más como a raiva ou a ira  ou emoçoes boas como a paixão. Talvez você já tenha passado por situação semelhante onde quando caiu em si percebeu que havia tomado uma decisão por impulso e caso tivesse pensado com calma e usado a razão não teria tomado o mesmo caminho.

Ao pesquisar a respeito e até mesmo conversar com amigos percebemos que a maior parte das pessoas irá defender a preponderância da razão sobre a emoção sempre e em qualquer situação. Alguns argumentam ainda que a emoção não controlada, não aprisionada, seja uma fraqueza. Porém, vamos tentar analisar um pouco melhor essa discussão: Aristóteles distinguiu as virtudes do homem entre aquelas derivadas da razão, ou virtudes intelectuais como o bom senso e também as derivadas da emoção como por exemplo a justiça e a coragem. Para o grego, ambas deviam conviver pois tem seu valor.

Ou seja, ele valorizou cada um dos lados e procurou encontrar a Justa Medida que deve ser buscada por cada pessoa. As filosofias orientais também conhecem esse pensamento e chamam de "O Caminho do Meio", ou seja, o equilíbrio que deve ser encontrado em situações antagônicas. Porque não deixar ocorrer esse bom combate? Afinal, não está a dualidade sempre presente? Para que discutir por exemplo se o melhor é saber a teoria ou ter a prática? Você precisa dos dois!

Não estou defendendo que devemos viver apenas orientado a sonhos, mas sim que devemos aprender a fazer o bom uso das emoções, da intuição e saber dosar isso com o uso da razão.

Concluo citando mais uma vez Gibran, o qual apimenta essa discussão dizendo "a vossa razão e a vossa paixão são o leme e as velas da vossa alma navegante. Se um de vós navegar e as velas se partirem, só podereis andar à deriva ou ficar imóveis no meio do mar. Pois a razão, só por si, é uma força confinante; e a paixão, não controlada, é uma chama que arde provocando a sua própria destruição".

Tiago Baciotti Moreira, 27 de junho de 2010.

15 de junho de 2010

SUA MAJESTADE, A BOLA

É interessante pensar a vida a partir da bola. Afinal todos nós já tivemos pela vida afora algum momento de contato e de intimidade com ela. Antes de nascer vivemos nove meses dentro de uma. Depois, sugamos nosso primeiro alimento agarrados, grudados numa bola, que anatomicamente nos completa. Depois, o primeiro brinquedo, especialmente se formos um garoto, é uma bola. Vivemos na terra que é uma bola e durante a vida é comum sentirmo-nos numa bola de neve.
Por outro lado, na adolescência e juventude, nosso esporte seguramente é o futebol, hoje para ambos os sexos. Comigo, como não poderia ser diferente, tive meus minutos de glória ao disputar uma partida oficial – Estádio Palma Travassos – quando em derrota fragorosa, para o Comercial, tive o privilégio de marcar o único gol do meu time. Hoje não sou torcedor de nenhuma camisa, talvez por ver o sonho virar comércio e o ideal negociata. Embora, por solidariedade a dois filhos, nutra simpatia pela rubro-negra. Mas quando o Brasil entra em campo, o patriotismo fala mais alto, o Hino Nacional tem um som diferente e realmente o coração vibra mais forte. É talvez o momento em que os brasileiros são 100% solidários, pois são nessas horas, quando os sentimentos afloram de maneira intensa, que o nosso consciente bloqueia outras preocupações, para que o cérebro consiga administrar tanta emoção.
Estamos agora em plena Copa Mundial e já nos preparando para a próxima, da qual seremos sede e que, essa sim, será nosso desafio maior. Pois, podemos até perdê-la dentro do gramado, mas imperiosamente teremos que vencê-la como anfitriões.  E aqui meu temor é grande, pois é uma situação que envolve política e grandes somas em dinheiro, dois ingredientes, que em nosso país, tem dado provas de produzir bolos absolutamente intragáveis.
Torçamos, e por que não, oremos, já que Deus é brasileiro, para que possamos, pelo menos agora, coadunar futebol com seriedade, beleza com eficiência e gastos com honestidade.
Além disso, nossa responsabilidade é enorme com relação a infraestrutura. Estaremos prontos dentro de 4 anos?  Só para citar um exemplo: Para o especialista em uso racional da água, Paulo Costa, diretor da empresa H2C, embora o Brasil seja o primeiro país em disponibilidade de água doce do mundo, a poluição e o uso inadequado comprometem o recurso em várias regiões do país. Essa é uma preocupação sua em relação ao consumo de água durante a Copa. Diz ele: “Como justificar que o país que detém 13% da água doce do mundo, não possui políticas ambientais consistentes para o tema e pode vivenciar racionamento de água durante os maiores eventos esportivos do planeta?”
Bem, cabe às autoridades competentes e responsáveis a ação profícua, no sentido de planejamentos e execuções para que, quando sua majestade entrar no tapete verde, possamos cantar com Jorge Ben Jor : Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza!

José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com

31 de maio de 2010

AS SOMBRAS DA ATUALIDADE

Por que milhares de pessoas estão agrilhoadas nos seus sofás admirando o fundo da caverna? Enfeitiçadas pelas imagens reproduzidas e nem tomam conhecimento da verdade verdadeira? Se esquecendo que “a verdade está lá fora” ? Admiram, acreditam nas sombras vistas e não se dão conta de que a realidade é outra. E aos que se libertam desta letargia e tomam contato com a luz, com o sol brilhante e energizante e tentam alertar os demais, esclarecendo que existe um plano maior sobre tudo e sobre todos, são tidos como loucos. E tal insanidade é castigada com a morte. Assim tudo continua como dantes no reino de Abrantes.
É preciso que os destemidos continuem usando os meios disponíveis para alertar e despertar cada vez mais pessoas para perceberem que, além dessa caverna, existe lá fora um mundo real. Para deixarem esse mundo só de sombras onde estão projetando sua própria imagem na telinha. Mas será necessário muita paciência, pois segundo o autor da alegoria da caverna, Platão, para sair das sombras e se deparar com a luz, deve-se obedecer um processo lento e gradual. A ninguém é possível fazer-se essa transposição instantaneamente. Mas o que é realmente importante é o nosso querer. É preciso que queiramos sair do nosso conformismo patético para conhecermos de fato a realidade. Chega de nos  satisfazermos com as sombras da vida. De aceitarmos como verdadeiro as fraudes que se nos apresentam diariamente.
É preciso duvidar, indagar, questionar. Por que temos que aceitar tacitamente, sem discutir, o que nos apresentam como verdade? As maiores descobertas da vida surgiram da dúvida, da curiosidade. Segundo Platão é necessário que desarmemos o pensamento falso. Então devemos sentar frente a nossa telinha munidos de consciência crítica para conseguirmos filtrar as mentiras, dissecar os processos de convencimentos comerciais capitalistas, para então depararmos com a luz. Mesmo que tenhamos que abrir os olhos devagar, para não sermos cegados pela luz, vale a pena tentar.
Agora é a hora. Vai começar a grande corrida pelo poder. E nessa competição vale tudo. Inclusive e principalmente maquiar a verdade. Fazer sombras tão perfeitas que aos incautos parecem a mais pura e cristalina realidade. Assim, cabe a cada um saber a diferença entre crer na verdade e conhecer a verdade. Cuidado com o que lhe fazem crer, pode ser apenas a sombra da verdade. Porem se buscar o conhecimento, esse sim, lhe levará à realidade.
Afinal, já nos foi ensinado isso há mais de dois mil anos: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João, 8 – 32)

José Moreira Filho
Acadêmico da ALAMI
moreira@baciotti.com

6 de maio de 2010

DEUS É ELA

DEUS É ELA

Tenho pensado que Deus não deveria ser Ele, mas Ela. Isso porque são tantos os atributos de Deus presentes na mãe que seria mais lógico pensar um Deus feminino.
Deus é amor, e o maior reflexo de amor na terra está na mãe. Deus é perdão, e a mãe defende o filho até quando criminoso. Deus corrige e educa, e a mãe desde o berço ensina o melhor caminho a seu filho. Deus não castiga, simplesmente permite a ocorrência de situações adversas a nossa vontade e que nosso conhecimento não consegue compreender, e a mãe vê o filho chorar, brigar por algo que não lhe é permitido, mas que não será para seu bem. Deus conhece seus filhos um a um, é o bom pastor, e a mãe na madrugada, no escuro, sabe qual filho está chegando em casa somente pelo jeito da entrada. Como já disse João Paulo I, o Papa-sorriso: “Deus é Pai e Mãe”. Posição reforçada por Erasmo Carlos em sua canção Feminino Coração de Deus: “O coração de Deus é feminino / É a força de toda criação / Capricho do destino, a mãe da invenção”.
E por que então nos referimos a Deus como masculino, somente como pai? Talvez a história da humanidade nos esclareça isso. A supervalorização do homem, do macho e do provedor em detrimento da valorização da mulher por séculos, com a aquiescência da igreja, vem justificar de certa forma, essa conduta. A historiografia universal foi conduzida sempre sob a ótica masculina. Em todos os fatos históricos a presença masculina é marcante. Noé construiu a Arca, Moisés conduziu seu povo, Os maiores filósofos clássicos foram Sócrates, Platão e Aristóteles, as Grandes Navegações foram feitas por homens.  As Revoluções Industrial e Francesa idem.
Assim sendo parece natural que Deus seja um Homem, mas seria no mínimo justo de nossa parte, evidenciar no papel de mãe todas as características divinas. Deveríamos ter a gratidão social de reconhecer na mãe a presença de Deus e respeitá-la como tal.
É hora, portanto, de repensar essa teologia androcêntrica e perceber mais um Deus da bondade, do amor, do perdão. Um Deus protetor e carinhoso. Um Deus amigo e cúmplice .
Um Deus mãe.

Com meu carinho pelo seu Dia !
Moreira.

ITUIUTABA, Maio de 2010