15 de março de 2010

Onde estão os programadores casuais?

Como comentei em um artigo anterior, tive a sorte de começar a mexer em computadores ainda na época do MS-DOS. Naquela epóca, era interessante pois, talvez ajudado pela idade e cabeça livre de preocupações, passava boa parte do tempo envolvido em projetos pessoais totalmente por hobby. Por exemplo, eu não gastaria hoje várias semanas para montar um pseudo-clone de Space Invaders em modo texto. Pois é... eu fiz isso em Clipper.  Setas para direita e esquerda movimentavam a nave e o espaço atirava. E como não poderia faltar adicionei também algumas cheats.

Numa outra oportunidade, já trabalhando com Visual Basic 4, desenvolvi um jogo de xadrez. Não tinha nem chegado ao ponto de colocar as imagens das peças, mas toda a lógica já tinha evoluído bastante. Ainda no Visual Basic, peguei o projeto do joguinho "Nave" lá do Clipper e o construí também no Visual Basic. Bem mais fácil agora, visto que tanto as naves inimigas quanto o nosso herói eram objetos separados e a linguagem orientada a eventos ajudava bastante.

Ambos foram exemplos interessantes para os alunos nas aulas de programação que eram dadas nas pequenas escolas de informática que trabalhei em Ituiutaba. E influenciaram, em parte pelo menos,  alguns alunos a desenvolverem joguinhos simples também. Passava o tempo e ao mesmo tempo "afiava o machado" do candidato a programador.

Seria uma época mais propícia que hoje? Seria a ausência da Internet que nos permitia passar horas e horas no computador programando, melhorando e testando um código sem um MSN nos tirar o foco o tempo todo? Sem a vontade de checar o email a cada 5 minutos? Ou, seriam as ferramentas da época menos formais e mais próximas das pessoas comuns? Ferramentas que instigavam a qualquer pessoa, tendo apenas curiosidade e vontade de aprender, a arriscar algumas linhas de código.

Bom, esse pequeno relato é apenas para chegarmos no ponto pretendido, que é a pergunta título desse artigo. Não sei ao certo, mas hoje aparentemente temos menos programadores hobbystas, casuais mesmo, que a uns 10 anos atrás. Arriscando um palpite, creio que parte disso se deve ao fato que as linguagens antes pareciam mais próximas e amigáveis que atualmente. O próprio Visual Basic, que hoje recebe mençoes não muito honrosas pelos programadores atuais, ajudou contadores, administradores, técnicos em eletrônica, professores, escritores, etc, a desenvolver programas. Pessoas tidas como leigas em informática aprendiam e desenvolviam seus próprios programas que poderiam ser um controle de estoque, por exemplo, ou o que lhes desse na cabeça.

Ok, é claro que isso foi numa época que as leis fiscais não exigiam ainda impressoras fiscais e relatórios a serem apresentados, mas mesmo assim víamos pessoas de diferentes áreas a programarem.

Reforço a pergunta: Onde estão os programadores casuais? Ou melhor, onde estão as ferramentas que ajudaram a propiciar isso? Seria o Python, por exemplo, uma dessas linguagens mais próximas das "pessoas comuns"? Embora, é claro, não possua uma IDE visual como o já citado VB possuía, o Python propicia um desenvolvimento bem simples e as pessoas podem aprender noções de programação com ele sem dúvida. O VB .Net em sua versão Express, embora hoje não seja muito adepto de ferramentas Microsoft, confesso que seria sem dúvida também um candidato a ocupar esse cargo.

Talvez os puristas poderiam levantar a bandeira nesse momento de que programadores precisam conhecer as convenções, os diversos frameworks do Java, bem como todos os conceitos relacionados ao mundo Java ou .Net. Mas vejam bem que minha pergunta aqui é onde estão, de forma análoga aos antigos hobbystas que liam a Saber Eletrônica a uns anos atrás para soldar componentes em uma placa de circuito impresso, aqueles que nas horas vagas enveredavam-se por linhas de código inicialmente por mera curiosidade.

Arrisco ainda, sem querer ser o dono da verdade, que muitos que começaram a programar como hobby sem nunca terem tido uma educação formal na área de informática (na época uma opção era faculdade de "processamento de dados" não era?) hoje estão atuando profissionalmente na área. E começaram desse jeito. Hoje parece difícil para as pessoas entenderem que para darem os primeiros passos na área basta curiosidade. Talvez seja por isso que ainda me perguntam como trabalho  com informática se me formei em Administração. Tá bom, eu gosto mesmo de contar essa história.


Tiago Baciotti Moreira

7 comentários:

  1. Cara, grande artigo!
    de fato, embora eu esteja anos luz da programação, sei o que sei de software e informática por ser um fuçador nato!
    Curiosamente, dou aulas de multimídia e game design, mesmo tendo uma formação inicial em, pasme: Artes Cênicas!!!
    Creio que você matou a charada, quando disse que "para darem os primeiros passos na área basta curiosidade".
    Todo mundo pensa que o uso do computador, para além do MSN básico, é coisa de Nerd (bem, talvez seja, mas que mal há em tentar ser um pouco Nerd, não é?).
    Parabéns pela matéria e grato pela visitinha no RGB!
    Se quiser ler outras matérias de caráter mais educacional sobre os games, sugiro o GameCultura ponto (com.br). Lá, arrisco outros paltipes sobre o tema!
    grande abraço!!!

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  2. Esse é meu professor!

    Eu, realmente, nunca tive qualquer contato com programação até que entrei na faculdade. Foi ali que comecei a gostar. Apesar de novo na área, ver como as coisas são criadas me fascinam muito.
    O ruim é quando alguém acha que somos loucos por tentar entender essa área tão complicada pra muitos, enfim...

    Abraços!

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  3. Coloquei um comentário pelo dicas-l... Só queria complementar relembrando a revista-irmã-menor da "Saber" que era a "Eletrônica Total" (antes "Eletrônica Jr.").
    E dizer que esses artigos estão ótimos.

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  4. Olá,
    Eu discordo com você.
    Conheço muita gente que passa horas atualizando blogs, escrevendo pequenos aplicativos para Mobiles ou mesmo desenvolvendo jogos para Nintendo DS nas suas horas vagas.
    A maior parte deles nunca teve aulas de programação em colégio ou faculdade.
    Ana Flávia

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  5. Olá Baciotti.
    Se você pensar bem, como no artigo anterior, você mencionou ter saudade do MS-DOS...

    Mas MS-Dos Era quase puramente comandos e códiogos. Assim como programação. E isso levava as pessoar se interarem mais no munda da programação...

    Hoje com sistemas operacionais onde podemos operar em uma GUI 100% gráfica, e apenas com o mouse, esse espirito de CLI não nasce mais na nova geração, diminuindo drásticamento os programadores casuais.

    ... devem ter sido bons tempos aqueles...

    Fernando Emmert
    Sapiranga, RS, Brasil.

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  6. Cara será dificil voltarmos aquela epóca e acho que os caras que 'comiam' os códigos, antigamente eram mais motivados, pois era o que estava surgindo, hoje temos IDES que facilitam nossos trabalhos o que acho muito bom só que mesmo assim ainda será necessário comermos muito código, pois mesmo com a IDE ajudando, temos que comer códigos e mais códigos para fazer bem feito.

    e outra queria tanto IDE'S BOAS para python, C++, ruby, e se possivel multiplataforma, onde está isso também, projetos nesse sentido, ainda acho que estão em falta, pois eu na minha ignorancia nao conheço nenhum bom, pois por mais que no Windows tenhamos o MS Visual Studio, pra linux não vejo nada ao mesmo nivel, mesmo que o que o Visual studio gere seja ruim a IDE é muito boa, e no linux as linguagens são boas porem sem boas IDEs pra ajudar.

    sonho com o dia estar dentro de um projeto de uma super IDE mesmo que seja pra o Parrot.

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  7. Caro Baciotti
    assim como voce sou saudosista da época que programávamos com dBase/Clipper, WordStar (Ctrl-K-B, Ctrl-K-C...) e Lotus 1-2-3 (/WGE/WFS{nome.wk1...).
    Parece que havia bem mais espontaneidade nas pessoas, havia mais foco e menos loucuras de códigos que ninguém entende.
    Cheguei também a programar um pouco em C (que aliás dava um trabalho danado, mas que era bem mais legível do que um código C++ de hoje).
    Eu mesmo aprendi a programar em dBase em 1 mês lendo o manual da Nantucket de 751 páginas em inglês. Depois, em 1 semana aprendi a compilar com Clipper e linkeditar com o LINK do DOS.
    O fascinante é que fazíamos grandes programas com apenas 640KB de memória RAM, sendo cerca de 130KB consumidos pelo DOS.
    Muitas coisas melhoraram com a chegada do Windows 3 e seus sucessores, mas no DOS se faziam coisas que podemos hoje chamar de 'arte'.

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